“DO GRANDE MAR DO MEU TORMENTO ANTIGO”
Do grande mar do meu tormento antigo,
como aurora de amor sai a esperança,
vestida já de luz que de si lança
o sol que eu sempre temo e sempre sigo.
Ao seu parecer foge o perigo,
donde quer que a claridade alcança
rompe o véu negro da desconfiança
que juntamente aprovo e contradigo.
Mas o secreto d’alma, ainda toldado
das nuvens negras com que antigamente
a cercou por mil partes meu cuidado,
se a luz de tanta glória ainda não sente,
são efeitos cruéis do mal passado
que lhe não deixam ver o bem presente.
FERNÃO RODRIGUES LOBO SOROPITA
( c. 1560 – ? )
(de “Cancioneiro Fernandes Tomás”)
Retirado da net
Arte : - Sofonisba ANGUISSOLA