Poema

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Atravessa em silêncio o ruído, constrói com discreta

harmonia das coisas imperecíveis a escultura das pernas

de fogo e renasce no sorriso das fontes, nas bocas

secas de intimidade, nos beijos que gretam a língua.

 

Nas ruas grita-se ao ódio e à liberdade, fumegam

os corpos sacrificados de sonhos e crenças ungidas

de mãos cruéis, insanos velhos cobardes incentivam

a morte mas não fazem a guerra, condecoram os heróis

estropiados mas salvam os filhos da frente de batalha.

 

Atravessa em silêncio o cristal das palavras intemporais

escritas na pedra, onde a seiva invisível do Outono

protege as campas, mas não a dor no peito, nem a luz triste

das manhãs quando o café trazia o aroma da esperança.

Imagem retirada da net

António Vilhena