À descoberta do "secreto" coro alto da Igreja da Rainha Santa

 

As visitas guiadas, limitadas a 50 pessoas, são uma rara oportunidade para descobrir um espaço "secreto" da igreja conimbricense. "Esta parte, famosa sobretudo pelo seu cadeiral, constitui uma novidade absoluta. Nunca tinha estado aberta ao público", explicou o presidente da Mesa Administrativa da Confraria da Rainha Santa Isabel, António Rebelo. Seria ele, aliás, o cicerone dos visitantes à descoberta da sala em que decorriam as cerimónias litúrgicas das freiras que habitaram o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova (conjunto monástico que inclui a Igreja da Rainha Santa) até ao início do século XX.

 

As filas de cadeiras de madeira trabalhada, dispostas frente a frente, no centro da sala, encimadas pelas pinturas de santas e santos franciscanos (15 de cada lado), são o que mais cativa os visitantes - "houve alguns que gostaram tanto que voltaram na visita guiada seguinte", garante António Rebelo. "O cadeiral terá sido trazido lá de baixo, do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha [junto à margem do rio Mondego], quando da transferência das freiras para cá, em 1677. As imagens dos 30 santos, alguns deles relacionados com a Rainha Santa e as suas devoções, são posteriores", descreve o responsável da confraria.

 

No entanto, o coro alto da Igreja da Rainha Santa Isabel tem bem mais do que o "famoso cadeiral". António Rebelo destaca "a riqueza artística, litúrgica e histórica do espaço", lembra os "belíssimos azulejos" e retábulos (várias representações de passos bíblicos e de muitos santos) que rodeiam a sala, e guarda para amanhã - "para os visitantes" - a "história engraçada" do sacrário ali conservado.

 

Esta área do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova só recentemente foi recuperada e se tornou "apresentável" para visitas. E embora esteja "minimamente visitável" - como diz António Rebelo -, ainda tem "várias necessidades de restauro" (dos azulejos às infiltrações das paredes), a exemplo do que acontece com o coro baixo e a capela-mor.

 

Ora, o objetivo do ciclo de visitas guiadas era precisamente "a recolha de fundos para a recuperação e restauro da capela-mor, com as suas telas, talhas, pedras e pinturas murais". No entanto, ainda "falta muito" para se atingir a fasquia dos 100 mil euros necessários para renovar o espaço que acolhe o túmulo de prata e cristal com o "corpo incorrupto" da Rainha Santa. A estátua de Teixeira Lopes (séc. XIX) que é transportada todos os anos pares nas procissões em homenagem a Isabel, e várias telas setecentistas de episódio da sua vida, de São Francisco e de Santa Clara. "Não chega a 10 mil euros o que foi apurado até agora", assume o líder da Mesa Administrativa da confraria.

 

Como "as receitas da confraria são apenas os donativos dos fiéis e as entradas turísticas e as suas contas ficaram a zeros para salvaguardar o altar-mor" (afetado por térmitas), a instituição propõe-se agora a "lançar uma campanha de crowdfunding, para chegar a outros públicos e mecenas" e conseguir os cerca de 90 mil euros em falta para o restauro da capela-mor. A ambição, frisa António Rebelo, é "enobrecer o espaço", a tempo da comemoração dos 750 anos do nascimento da Rainha Santa Isabel, em 2020..

Nós, os habitantes e “usuário” de Coimbra tems o dever de colaborar nesta angariação de fundos. Aliás, basta que cada habitante ofereça um euro – repare-se bem, 1€ - para que Santa Clara-a-Nova recupere o seu esplendor.