Colégio dos Jesuítas em Cernache: Que tempos são estes?

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O anúncio do fecho do Colégio de Cernache/Coimbra, pertença dos Jesuítas, deixa-me sem fôlego, contraia-me a esperança e destrói-me a vontade de, como Cidadão, acreditar na vida portuguesa.

Estamos a viver estes últimos 25 anos, depois de uma Revolução que trazia esperança, num limbo, numa primeira fase, a que se seguiu, durante uns 15 anos, os mais recentes, uma época descaracterizada e sem rumo. São caminhos, estes pouco pretéritos, os tais 15 anos, desastrosos, derrapantes, indecentes, maquiavélicos, abstrusos e pirosos, do ponto de vista da política, dos projectos dos partidos e das suas mais destacadas figuras.

O Ensino Particular e Cooperativo, plasmado na Constituição de 1976, era a garantia de que cada cidadão – criança, jovem ou adulto – podia escolher, em sintonia com os seus pais ou os seus encarregados de educação, a escola que mais garantias lhe pudesse dar de um Ensino de qualidade e, para uns ou outros, com a orientação que melhor encaixava na ordem familiar de onde provinha.

Um Estado Democrático é o que não impõe, antes concede a liberdade para… desde que respeitadora e não amachuque os outros.

Os Estados Democráticos que mais evoluíram, se desenvolveram e registaram progresso foram os que souberam traçar um Programa de Escolaridade e de Ensino consciente, sério, objectivo e enquadrado com os desafios da vida – empresarial, laboral, social, pública e privada, para além de outros sectores, até mesmo o da Defesa (este na alçada do respectivo Ministério e não no da Educação) - de que são exemplo os Países Nórdicos.

E que se atente – não venham dizer o contrário – que o Ensino Particular, nos mesmos Países, é financiado pelos Estados de cada uma dessas Nações. Os impostos, também nesses, são canalizados para o essencial, ou seja, para os Sistemas de Saúde e de Ensino/Instrução, a base fundamental para que qualquer País cresça, possa dar felicidade aos seus Cidadãos e lhes conceda um futuro das chamadas “abundâncias” fundamentais para a vida. Os “trocos” para o resto.

A Instituição Religiosa dos Jesuítas, a propósito, desta decisão, formatou um comunicado, de que passo a deixar as principais linhas, ficando entendimento para este facto, o que constitui uma machadada nas aspirações da educação das nossas massas jovens:

“O Colégio da Imaculada Conceição (CAIC) comunica, com pesar, o seu encerramento, já no próximo ano letivo. Este colégio, situado em Cernache, concelho de Coimbra, surgiu por iniciativa dos jesuítas portugueses e foi inaugurado em 1955. O CAIC funcionou com Contrato de Associação desde 1978, foi responsável pela formação de mais de 10.000 alunos e assumiu-se, durante 64 anos, como um marco de ensino de excelência e de formação humana integral na região”.

Sem críticas, acrescenta a nota, em referência:

“Consciente da importância deste projeto educativo para as famílias que fizeram a opção pelo Colégio, sem tempo para trabalhar de forma consistente outras alternativas, o CAIC assegurou ao longo de um ano (2016/2017) o seu funcionamento em regime gratuito para os alunos, mesmo já tendo terminado o financiamento do Estado num número muito significativo de turmas. Desde então, tem coberto os défices de exploração com os seus recursos próprios, de modo a honrar todos os compromissos com os seus colaboradores e parceiros. Apesar de todos os esforços, passados estes três anos de enorme investimento, a insustentabilidade financeira do CAIC tornou-se uma evidência incontornável, agravando-se significativamente os défices de exploração. Paralelamente, a realidade sociológica, económica e cultural em que o colégio se insere, bem com a tendência para a redução da natalidade em toda a região, tende a reforçar as fracas expectativas de que a procura pela oferta educativa do CAIC venha a aumentar de forma sustentada nos próximos anos, apesar de todo o empenho e esforços”.

Gostava que algum iluminado da política, principalmente um ou outro governante, me pudesse explicar a razão de o Estado deixar de colaborar e de financiar na Educação, em Portugal. Se vier com a cantiga de que não pode suportar o sistema público e o particular, agradeço que esqueçam essa ladainha, porque gasta e sem suporte.

Para onde vão milhões e milhões de euros dos impostos dos portugueses? Bastava retirar do imposto dos combustíveis uma percentagem para que o nosso sistema de ensino pudesse ter uma outra força, imagem e conseguisse ser, e tangencialmente, gratuito ou se existisse a coragem de retirar mordomias aos srs. deputados e a outros que tais.

Portugal, e não tardará muito, caso não se mude a agulha do discurso, do projecto nacional, da sentença política e da argumentação partidária passará a ser um Brasil, em ponto pequeno, com um acréscimo de deserdados da vida, do trabalho, de pedintes, de subsídio-dependentes, de gente sem futuro, de milhares a laborar para um séquito de políticos que, de decreto em decreto a que se juntam negociatas de amigos e da família política, vão desbaratando a riqueza pública.

Não tarda – e registem – seremos uma cotada dos interesses dos que vivem, sobrevivem e se alimentam dos dinheiros de todos nós, os que mourejamos, todos os dias, de sol-a-sol, com suores de rosto, mãos gretadas, peles estafadas pelos sacrifícios e já sem voz para gritarmos que estamos fartos.

Iremos a tempo? Talvez, mas precisamos de agarrar na pá, como a padeira de Aljubarrota, figura mítica da nossa história, e gritarmos bem alto, sem medos que nos ponham rótulos – sempre que um a voz se levanta contra o actual estado de coisas, lá vem a chancela de “fascista” e de salazarista, para a qual, falo por mim e por muitos e muitos portugueses, já demos – que estamos fartos e queremos nova vida…

Ainda agora, a intervenção de João Miguel Tavares, nas Comemorações do 10 de Junho, em Portalegre, foi um grito e, também, um “acorda Portugal e levantem-se portugueses”.

António Barreiros