HISTÓRIA XIII (recordando Me. Teresa): UM FINAL ESTAFADO

Antonio-Barreiros98.png

Os últimos 4 a 6 anos de vida da minha querida Me. Teresa Granado foram estafados, inquietantes, sofridos, atribulados e de angústia. Houve mudanças na Instituição que ela fundou. O Bispado de Coimbra assumiu-se como a mola para gerir os novos tempos. Quis fazer descansar Teresa, de tanta tribulação, canseira e desgaste pessoal, humano e psicológico.

Será que tratou, para não a magoar, da melhor forma a situação? Não o creio. Não se afasta, sem diálogo e compreensão, quem deu tudo de si a uma Obra, de crianças e de jovens. Mas não se atiram pedras, por isto ou por aquilo, sobre o que se ouve… a uma mulher que deu amor e sofreu pelos seus “filhos”. A coisa azedou, no final do Verão de 2017.

Em Outubro fui dar a cara, quando soube que muitos dos seus “filhos” decidiram reunir com ela, num almoço, para lhe dar apoio e criticar a Igreja Diocesana, na pessoa do seu Bispo e, também, a nova Directora da Instituição. Não alinho em arremessos de “pedras”…sem diálogos e compreensões.

Fui, no final, a esse almoço. Disse umas palavras para tentar acalmar. Acabei, primeiro, vaiado e, no final do meu discurso, insultado. Não me importei… Estava preparado, para tanto. Mas deixei o recado… e, depois, já mais calmos, no final ouviram-me. Deixo, em resumo, o que levei.

“Todos devem saber que, e nestes últimos tempos, até porque a comunicação social tem vindo a reflectir a situação, existe uma alteração de funcionalidade que trespassa a Comunidade. Penso que não se tratará de varrer, como quem sacode pó de cima de uma secretária, a nossa Madre Teresa. Os tempos, como devem perceber e adivinhar, mudam (…)”.

E mais disse: “A Comunidade passou a ser uma Fundação, com a intervenção da Igreja Católica, mais propriamente do Bispado de Coimbra, sendo certo que os terrenos foram doados pela Câmara Municipal de Coimbra, no tempo do Presidente, a Dra. Maria Judite Mendes de Abreu, contemporânea de minha saudosa mãe. A Comunidade, e como Fundação, passou a ter outros requisitos e a estar dotada de novas regras, impostas não só pelo Direito Canónico da Igreja Católica mas, e também, pelas do Código Civil, porque a Instituição passou a ter um parceiro mais interventivo e responsável, ou seja, a Segurança Social”.

Mais adiante, na mina intervenção, fiz reflectir: “Entretanto, a Madre Teresa foi ficando com mais anos de vida em cima, mais gasta, mais estafada, mais moída e mais cansada (…). Todos, mas todos, amiga Madre Teresa, lhes estaremos eternamente agradecidos. Mas compreenda que existiu uma viragem, até para seu bem, porque está desfeita de tanta canseira. A Obra que criou tem de fazer a agulha, até porque a extremosa Teresa Granado não vai durar sempre. É preciso preparar o presente para acautelar o futuro da Instituição. Escreva um livro e conte-nos tudo o que passou e soube fazer para ficarmos com o seu testemunho vivo”.

E dirigindo-me aos “filhos” presentes: “Mas tem, como compreenderá ela e todos vós, de perceber que a Nova Casa/Obra tem outras regras, apesar de sabermos que ela foi a grande obreira e construtora da Comunidade. Tem de se deixar – sabemos que lhe será difícil – de apadrinhar gente que a pretende enganar na sua ingenuidade e na bondade que a caracterizou – sempre – porque não pode ficar refém de ninguém, numa caminhada de senhora e de mulher verdascada por 88 anos. A Madre Teresa tem de se recatar, de se proteger e de acatar, apesar da sua provecta idade, uma ou outra palavra que gente com sabedoria e experiência lhe querem doar, por bem. Queremos dar-lhe Palavras de bem e não de exclusão ou de reprimenda. Aceite e compreenda isso”.

António Barreiros