IGREJA DO SALVADOR

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 A IGREJA DO SALVADOR de Coimbra, e não São Salvador, situada paredes meias com a antiga igreja de São João de Almedina, data da segunda metade do século Xll, e é uma construção um pouco posterior à Sé Velha, mas começada antes das obras da catedral acabarem. Um letreiro que se conserva indica que o portal foi mandado fazer por Estêvão Martins, em 1179, mas também sabemos que esta obra do segundo românico de Coimbra substituiu uma outra que existia, pelo menos, já em 1064, mas que pode ser ainda anterior.

O portal da igreja, bem como o que se pode concluir do aspecto da primitiva fachada, já que sofreu uma grande reforma no século XVIII, demonstra a sua filiação na corrente introduzida na cidade pelos mestres franceses Roberto e Bernardo, em Santa Cruz e na catedral, a que aderiram os construtores locais, e a frontaria devia ser uma simplificação da fachada da Sé Velha.

O interior tem a cobertura de madeira, excepto nas capelas da cabeceira e uma lateral, que são abobadadas. O plano, que é algo irregular, com um desvio do eixo de alguns graus, compõe-se de um corpo de três naves separadas por pilares simples, monocilíndricos nos primeiros tramos, e compostos no que define o transepto, apesar deste ser só enunciado em altura, e de uma cabeceira tripla, com as capelas laterais, no seguimento das naves. São de muito boa qualidade os capitéis decorados com motivos tirados da flora e da fauna.

O coro-alto mantém o essencial da estrutura medieval, provavelmente do século XV, e deveria ser também muito parecido com o já desaparecido da Sé Velha, obra de carácter mudejar, mas esta é apenas uma hipótese.

A capela-mor, com um lambril de azulejos historiados que quase chagam ao arranque da abóbada, possui um retábulo de talha dourada e marmoreada, datado de 1746, com um amplo camarim com trono para exposição do Santíssimo, já rococó, com duas colunas marmoreadas a verde de cada lado, a suportar um frontão interrompido monumental, com dois anjos acrotérios de magnífica factura.

O retábulo da capela colateral esquerda é um exemplar de estilo maneirista, dedicado ao Evangelista São Marcos, muito depurado e com grande erudição no seu desenho, datável por analogia de cerca de 1540; é esculpido em pedra de Ançã, e pode atribuir-se sem reservas a João de Ruão.

O retábulo do lado direito é da mesma época do mor e, provavelmente, do mesmo autor, setecentista, dourado e marmoreado, com vigorosos anjos-atlantes no frontão interrompido, e um excelente relevo no nicho central.

A meio do corpo da igreja, do lado direito, foi aberta uma capela funerária, no tempo de D. Manuel I, em ano próximo ao de 1515, de planta rectangular, coberta por uma abóbada de nervuras, num tipo comum ao gótico final utilitário. Encontra-se aqui o túmulo de Afonso de Barros e Guiomar de Sá, obra de um artista ligado ao designado “Mestre dos Túmulos Reis” de Santa Cruz, talvez o espanhol Juan de la Faya. Toda a decoração desta capela, incluindo o retábulo barroco de colunas torsas, as pinturas alusivas à Vida da Virgem e o revestimento azulejar de padrão azul e branco foi executada em 1699, como indica uma cartela incluída num rótulo, também em azulejo.

As paredes da igreja do Salvador estão revestidas de magníficos painéis de azulejos historiados de estilo rococó, datáveis da segunda metade do século XVIII e de fabrico local.

Do lado oposto à capela funerária de Afonso de Barros e Guiomar de Sá, fica a capela de São Brás, obra renascentista, de meados do século XVI, mas com um curioso retábulo-maquineta de estilo barroco, e uma grande escultura do orago, também setecentista, de excelente factura e policromia.

Pedro Dias