O MOSTEIRO DE CELAS

 

O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE CELAS está situado no antigo burgo do mesmo nome, há já muito dentro do perímetro urbano de Coimbra. Foi fundado, em 1213, por D. Sancha, filha do segundo monarca português, e entregue à Ordem de Cister. A igreja foi sagrada pelo bispo D. Aimérico, a 13 de Junho de 1293. Nos séculos seguintes, o conjunto monástico sofreu diversas alterações, nomeadamente, no XVI e no XVIII, altura em que se alterou grandemente o fácies primitivo.

A rotunda tardo-gótica da igreja foi edificada pelos mestres pedreiros João Português e Gaspar Fernandes em 1530, mas é quase certo que aproveitaram as estruturas antigas, do período inicial, com a mesma distribuição espacial, isto é, uma igreja de planta centrada. Pouco antes de 1526, Nicolau Chanterene fez o arco tumular da abadessa D. Leonor de Vasconcelos, que haveria de ser transformado em porta de acesso à casa do capítulo e ao claustro. Nos anos do abadessado de D. Maria de Távora, sucederam se os melhoramentos, contando se João de Ruão entre os artistas que aqui trabalharam .

Nos finais do século de Quinhentos e no princípio do seguinte, foram edificados o novo dormitório e a hospedaria. Na época barroca, em meados do século XVIII, foram feitas as grandes últimas reformas que, entre outras dependências, alteraram a capela mor e o retábulo principal.

O Mosteiro de Celas acolhia já uma centena de freiras, em meados do século XVI, número que aumentou, até 1712, quando se contavam 147 monjas e outras tantas «encostadas». A última freira, D. Maria do Ó Negrão, morreu aqui, solitária e louca, em 1883, quando a casa religiosa tinha caído no maior abandono e miséria.

A frontaria foi profundamente remodelada, em 1630, altura em que construiram o mirante do andar superior; porém, mantiveram os portais primitivos. O principal está datado de 1530 e deve ter sido feito pelos mesmos empreiteiros da abóbada da igreja.

Passando a porta renascentista, entra-se num átrio, onde se destaca novo portal barroco, no qual está inscrita a data de 1735; dá acesso à igreja. Esta tem o plano do corpo centrado, e a cabeceira rectangular. A rotunda é coberta por uma abóbada de nervuras do tipo do gótico-final, mas ainda de raios direitos. A abóbada da cabeceira apresenta uma decoração de estuques. O altar-mor é barroco, de meados de Setecentos, e inclui uma tela e esculturas da mesma época. Há outros dois retábulos ao lado do arco-cruzeiro, que seguem o tipo do da cabeceira.

Das várias pinturas que o templo possui destaca se uma belíssima Anunciação, flamenga, comprada no Norte da França, em 1529, por Nicolau Chanterene, que se deslocou lá propositadamente, a mando do rei D. João III. Os azulejos do lambril são setecentistas e conimbricenses, da Fábrica da Telha Vidrada, pintados por Sousa Carvalho que era então o seu mestre.

Numa pequena dependência do lado direito da nave circular, encontra se um baixo-relevo evocativo do Martírio de São João Evangelista, feito por João de Ruão, por encomenda da abadessa D. Maria de Távora.

Uma pesada grade de ferro separa o coro monástico da igreja. Nessa dependência, reservada às freiras, podem ver-se vários retábulos maneiristas de talhas douradas, e pinturas do mesmo estilo. O cadeiral é uma boa e sóbria obra do marceneiro Gaspar Coelho, que o executou, nos últimos anos do século XVI.

A passagem para a sala do capítulo faz se através de um ante-

cabido, para o qual se entra pela porta resultante da transformação do túmulo esculpido por Nicolau Chanterene. Na entrada do capítulo, há um arco gótico do século XIV. A sala tem uma bela abóbada do século XVI que segue o classicismo austero coimbrão.

Um dos principais motivos de interesse do Mosteiro de Santa Maria de Celas é o claustro gótico, muito especialmente nos capitéis historiados que ostenta. Esses capitéis são do primitivo, que deveria ter metade das dimensões do actual, tendo as obras de aumento sido patrocinadas por D. Maria de Távora, em meados do século XVI. Representam a escultura coimbrã de melhor nível da passagem do século XIII para o século XIV.

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Pedro Dias