Panorâmica sobre a destruição da “Alta” (DR)

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A 14 de Abril 1943 deu-se início à destruição da velha “Alta” para expansão da cidade universitária, dando sequência à aprovação pela municipalidade da planta com relação das expropriações a fazer, a 19/11/1942.

O plano foi concebido e dirigido por Cottinelli Telmo, nos anos de 1941 a 1948, e prosseguido por Cristino da Silva, entre 1949 e 1966. Estes dois arquitectos, além de responsáveis pelo plano geral, tutelaram estritamente o projecto de cada um dos edifícios.

O edifício do Arquivo da Universidade, construído entre 1943 e 1948, de pequenas dimensões e secundariamente localizado, marcou o princípio de uma nova era, obedecendo ao gosto monumentalista do regime, pautado por um estilo neoclássico rigidamente marcado pelas ideologias fascistas e nazis – compromisso particularmente evidente na grande escadaria de acesso, mas igualmente nos princípios compositivos que irão reger os diferentes projetos (Faculdade de Letras, Biblioteca Geral).

O profundo impacto desta obra do Estado Novo, em termos sociais e urbanísticos, tem sido objecto de estudo continuado atè à actualidade. O empreendimento haveria de durar até à década de 60, tendo as demolições começado pelas ruas da Trindade e das Parreiras, artérias que desapareceram para sempre, à semelhança de dezenas de colégios universitários, igrejas, capelas, casario antigo, vida económico e social, feita de comércio e serviços.

A rua das Parreiras, por exemplo, era uma estreita via que ligava a rua de Entre Colégios e a rua de S. Pedro, estendendo-se ao longo da fachada sul do antigo Colégio Real de S. Paulo e, mais tarde, do primeiro edificio da Faculdade de Letras.

O plano de Cottinelli Telmo alteo draria o rosto da acrópole universitária, com imensas expropriações e realojamentos que se estenderam ao resto da cidade: cerca de cinco por cento da população citadina, dois a três milhares de pessoas, foram obrigadas a abandonar a “Alta”, a maioria das quais integradas em bairros sociais, o primeiro dos quais o de Celas, que com as obras da cidade universitária adquiriram um maior ritme construção. Iniciava-se assim, a migração dos salatinas, expulsos do seu território original, alguns sucumbindo pela idade avançada, ou desgosto pelo desenraizamento forçado.

A fisionomia urbanística de Coimbra transformou-se radicalmente com a cidade universitária. Para alguns especialistas começou uma nova era, com desaparecimento da zona habitacional da “Alta”, consequente deslocação da massa populacional para as colinas de Celas, Sete Fontes, Montes Claros, Conchada e “Baixa”.

É curioso assinalar como o património universitário estadonovista, apesar dos efeitos que teve no tecido urbano e social da cidade, veio a ser reconhecido pela Unesco, em 2013, como Património da Humanidade.

JOÃO PINHO

Historiador e investigador

Recriação da velha alta antes de 1942. Dá para matar saudades. 

http://www.youtube.com/watch?v=wPCwEnjJLdk