PROFESSOR DOUTOR ELISIO DE MOURA

Copia-de-caricaturas-paint-2.jpg

 Vi, bem perto de mim, no dia da abertura oficial das aulas da Universidade de Coimbra, num dia de Outubro de 1964, esta figura quase lendária da Faculdade de Medicina, eminente catedrático de Patologia Interna e Investigador nos ramos da Neurologia e da Psiquiatria.

O cerimonial da abertura do ano escolar foi rico, abrilhantado com a incontornável presença do Américo Tomás, transportado num enorme e faustoso Bentley de chapa blindada, que nos despertou a todos grande curiosidade. Os Lentes, adornados com as cores das suas faculdades, coloriam a festa, em cortejo lento para a Sala dos Capelos, ao som da Charamela da Universidade, e enquadrados por archeiros em traje de gala.

 

Nunca me esqueci da humildade e simplicidade daquele homem magro, pequenino, já com 87 anos, de olhos salientes, nariz adunco e ralos cabelos brancos, trajado apenas com batina, camisa branca e capa negra, ruça e esburacada dos muitos anos, atravessando a porta férrea e correspondendo aos cumprimentos dos estudantes que o ladeavam.

 

Que contraste com as borlas, os capelos e os ares altivos dos seus colegas docentes, muito mais novos do que ele!

 

O Doutor Elisio de Moura exercia a medicina de forma heterodoxa, o que lhe granjeou, junto dos populares, a aura de figura estranha e vagamente milagreira.

 

Lembro-me de uma história ilustrativa dessa sua forma de ser, que na altura me foi contada:

Um dia, um homem de certa idade procurou o Professor e queixou-se-lhe de dores no estômago, pedindo receita de algum remédio que lhe aliviasse o sofrimento.

 

O Doutor Elisio de Moura, olhou-o demoradamente, inquiriu-o sobre a sua idade, fez-lhe mais duas ou três perguntas e, sem sequer lhe fazer qualquer apalpação ou exame, mandou-o embora, ordenando-lhe apenas:

- Rape o bigode. E venha cá quando se sentir melhor!

 

O homem assim fez e passado tempo procurou de novo o Professor para lhe agradecer a cura.

 

Foi então que o Doutor Elisio de Moura lhe explicou que tinha reparado que ele tinha o cabelo completamente branco e o bigode preto. Daí deduzindo que o homem pintava o bigode, sendo as dores do aparelho digestivo provavelmente resultantes de alguma tinta que inadvertidamente ele ia engolindo.

Concluiu, confessando-lhe:

- Por acaso, desta vez, o diagnóstico estava certo. Não me enganei!

Imagem da net

Rui Felício