Hoje tenho a alma ferida.

 Estadio3.jpg

Hoje a ver o jogo da Académica com o Estoril senti vontade de chorar. Tal como todos os outros adeptos da AAC ali presentes nem me apetecia apupar, assobiar ou criticar. Só sabia que me doía e muito mas nem sabia bem onde. Onde não, mas porquê sim.

Dói o estádio com poucos adeptos, nem sei quantos foram se 2 ou 3 mil, foram de certeza poucos para o que a Académica devia representar para Coimbra. Há um grupo de irredutíveis masoquistas que insiste em ir aos jogos, em casa e fora, na esperança de ver a AAC ganhar mas na certeza de a ver jogar. Hoje os que foram voltaram a casa cabisbaixos, envergonhados, vergados pelo consentir de 7 golos perante um Estoril que também não percebia como era possível aquilo estar a correr tão bem. Não a viram ganhar, nem a viram jogar. A imagem da AAC ainda encanta, a sua equipa e dinâmica atual não. Ainda mais triste e paradigmático da realidade atual da AAC-OAF e da sua ligação a Coimbra é que logo há um jogo em Lisboa a que muitos estarão atentos e que vão exultar com o sucesso ou fracasso de clubes longínquos. Mas a AAC que está aqui tão perto tem de fazer mais. Para agradar aos mais jovens que nela se têm de viciar, para manter os pais e mães que aos filhos vão passar esse gosto, para confortar os mais velhos mantendo aceso um amor de décadas.

Dói por sofrer sete golos em casa, sete, sim sete, com três deles a serem oferecidos pelos nossos jogadores com erros infantis. Esses mesmos erros somados a outros em que não se ofereceu a bola mas se facilitou a vida aos adversários. Dói ver tão fraco desempenho a alguém com a camisola preta vestida. Dói sofrer sete e dói porque se marcaram 3, o árbitro anulou um sabe-se lá porquê, podemos até dizer que no ataque tivemos alguma qualidade, boas jogadas, não foi por ali que perdemos. Atrás sim, sete golos, 4 sofridos, três oferecidos.

Dói por ver que este jogo termina uma semana em que a direção não conseguiu substituto para o treinador. Dói porque soubemos de recusas. Recusar treinar a AAC dói a todos nós, afinal já nem o atrativo que era treinar esta instituição se mantém. A justificar essa pouca atratividade estará porventura o valor do salário proposto. Coimbra deixa sair os seus melhores por não lhe oferecer condições para ficarem e não consegue trazer outros de que necessita. Dói vê-los partir, dói não os ver chegar.

Dói porque não se vislumbra melhoria rápida. A AAC OAF tem de repensar o seu modelo de gestão e com ele o de financiamento e contratação. Seis treinadores em pouco mais de um ano mostra que o mal não estará ali, sobretudo ali.

Eu não me importo de apoiar um projeto sustentável para subir, estou disposto a pensar outras formas de gestão e seus objetivos. Mas mais disto não. Dói. A Académica não pode esperar que Coimbra mude, tem de fazer o seu caminho e puxar pela cidade. Tem de se afirmar, de liderar, de ousar. Tem de ser tudo o que a cidade não é. Para isso, tal como a cidade, tem de se livrar de muito lastro que só as atrasam e lentificam. E aí teremos novas dores, mas serão de crescimento. Essas doem mas valem a pena. Estas não, doem para nada. Vamos a isso então? “Bora lá”!

Comecei por dizer que tinha a alma ferida e o meu drama é que para sarar uma ferida coloca-se um penso, mas como é que se coloca um penso na alma? Alguém ajuda?

Dorido me confesso.

Rui Rodrigues, sócio da AAC desde 1973

Coimbra