Editorial 10-10-2020

 A (in)diferença de um olhar passante

 

Seus olhos perdiam-se na imensidão do nada e os passantes disfarçavam qualquer inquietação. Nas escadas sentavam-se aqueles que lutavam contra o tempo, que não parava de passar tão rapidamente que as frustrações davam lugar à indiferença.

Somos feitos de uma máquina que não resiste ao tempo e, ainda que nos queiramos eternos, acabaremos por nos render e baixar nossas armas.

Quantas vidas não teremos vivido sem pensar nisto?

Quantos pensamentos não teremos tido se não tivéssemos cruzado, naquele dia, aquele olhar?

Somos muito mais do que aparentamos ser. Somos portadores de um inegável lado maléfico que nos invade, de vez em quando, e de um lado angelical que escondemos com pudor.

Salve-se quem puder! Em tempos de guerra não se limpam armas! Quem tem “cú-mplice” tem medo! E aquele olhar sempre despercebido dos passantes que ilustram a “des-natureza” das humanidades…

Arrastamos connosco as misérias do Mundo. E basta uma vida, ou uma parte dela, para fazermos toda a diferença num gesto, num olhar ou num pensamento refletido após termos cruzado muitos e muitos olhares que se perdem na imensidão do nada…

 

Autoria de Sofia Geirinhas, a poetisa de pé-descalço

Cébazat, dia 10 de Outubro de 2020