COUTO DE HOMIZIADOS

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São muitos os coutos de homiziados ao longo da fronteira com Castela.

Um dos mais antigos é o couto de Freixo de Espada à Cinta cujo território confina com a margem direita do Rio Douro.

Foi criado por D. Afonso Henriques com o objectivo primordial de povoar a região e defender a fronteira das invasões castelhanas.

Segundo as prerrogativas dos coutos de homiziados vindas já dos tempos senhoriais, a justiça do Rei não era ali permitida, sendo exercida pelo povo em assembleias convocadas quando tal fosse necessário e a população estava isenta do pagamento de impostos reais.

Como forma de atracção de gente para povoar o território, dava-se aos condenados, a livre escolha de optarem, se quisessem, em vez de cumprirem as penas de prisão a que tivessem sido sentenciados em qualquer parte do Reino, a deslocarem-se para o Couto para ali viverem livremente durante os anos da pena, com a exclusiva obrigação de trabalharem no amanho das terras e na semeadura da floresta.

Quando. séculos mais tarde, D. Dinis por ali passou depois de uma caçada, acoitou-se à sombra de um freixo que era na altura a árvore mais abundante naquelas terras e atou a sua espada ao tronco, prendendo-a com o seu cinto de cabedal.

Dormiu e quando acordou, determinou que todos os homens daquela terra continuassem a cuidar da agricultura e da floresta, devendo, porém, andar sempre armados, tanto no trabalho como no descanso.

E que juntamente com as mulheres repovoassem o território.

Deixou-lhes como legado a espada e o cinto que a prendia ao freixo, dizendo-se que aqui residiu a origem do estranho nome desta terra.

Aqui nasceu Guerra Junqueiro que, jovem, foi viver para a cidade, regressando muitos anos mais tarde ao Freixo para ali acabar os seus dias.

Este eminente escritor, poeta popular e panfletário possuía na sua génese as características do povo de Freixo de Espada à Cinta, encarnando nele um estrénuo defensor da Liberdade recusando com denodo qualquer domínio do poder de Lisboa.

Rui Felicio