ESPERANÇA

JO JONES93

 

Era um dia de verão, daqueles em que o calor nos convida a encontrar um refúgio à sombra. Procurei, como em tantas outras ocasiões, aquele parque junto ao rio, um lugar onde podia refrescar-me e mergulhar nas páginas de um livro que aguardava pacientemente a minha atenção. Escolhi um banco recatado, onde a brisa suave parecia sussurrar segredos. Ao abrir o livro, que já tinha o aroma do tempo e a marca da desatenção, deparei-me com as palavras de Fernando Namora e os seus retalhos de vida.

Um desses retalhos falava de reputação. O que seria a reputação, senão uma máscara que usamos para nos apresentar ao mundo? Seria o que realmente valemos ou apenas o reflexo do que os outros pensam de nós? Por vezes, o esforço que fazemos para sermos reconhecidos e valorizados não é compensado pela sociedade que nos rodeia. Mas, naquele dia, não era a reputação que me levava a sentar-me junto ao rio.

Após alguns minutos de leitura, um homem, cujo corpo carregava o peso dos anos, sentou-se ao meu lado. O seu sorriso largo parecia querer abraçar o mundo. Educadamente, perguntou se podia partilhar aquele espaço, e eu, em sinal de concordância, acenei. A conversa começou de forma leve, centrada no calor do dia. Perguntei-lhe se também ele tinha vindo à procura da sombra e do frescor do Mondego. Ele hesitou por um momento, como se as palavras tivessem de ser cuidadosamente escolhidas.

"Estou à espera da mulher da minha vida", disse, com um olhar que misturava cansaço e esperança. Sem querer invadir a sua intimidade, comentei:
"As senhoras chegam sempre atrasadas, não é? Há sempre algo de última hora a fazer antes de sair de casa."

Ele fixou o olhar em mim e, com uma profundidade que me fez sentir a gravidade da sua história, respondeu: "Sabe, menina, o meu grande amor sentiu-se mal neste banco há trinta anos atrás. Levei-a aos hospitais da Universidade de Coimbra
e ela pediu-me que a esperasse aqui. Prometeu-me que viria ao meu encontro neste mesmo lugar, onde estivemos juntos pela última vez. O banco é sempre o mesmo, onde me sento e a espero. Mas ela não veio ainda. Aguardo o momento do nosso reencontro, na esperança de que, como prometemos, seja aqui."

Lembrei-me daquelas palavras e olhei os azulejos já gastos pela espera de tantos que ali se sentaram e gravaram as suas iniciais na pedra do tempo. Tudo ressoava em mim como um eco distante da vida que se esvai. Ali estava ele, à espera do amor que nunca chegou durante trinta anos. Mas a sua esperança, embora dilacerada pelo tempo, permanecia viva. Era como se a morte, silenciosa e paciente, estivesse à espreita, aguardando aquele reencontro que não se concretizou durante três décadas.

E assim, o homem sentava-se, não apenas à espera da mulher amada, mas também à espera da própria morte, que lhe prometia o reencontro. Naquela espera, havia uma beleza trágica, uma lição sobre o amor e a perseverança, a certeza de que, mesmo nas sombras da vida, a esperança nunca se extingue. O banco, testemunha de uma história de amor, tornava-se um símbolo da eternidade, onde o tempo se dilatava e o reencontro ansiava por acontecer. Ao contemplar esta história de vida questionei-me recordando o texto de Fernando Namora: afinal, será que a reputação terá assim tanta importância ou serão os sentimentos e as atitudes que fazem acreditar na verdadeira essência do ser?

M. Jones
17/10/2025
(Escrito em Almada na esplanada em frente do tribunal administrativo) .