Moçambique: um ensino deficiente

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 Pego no tema, porque sou dos que me corre o "bicho" do jornalismo nas veias, ainda, pelo que vou à procura dos assuntos que devem merecer preocupação.

A vinda para a Universidade de Aveiro da filha de um casal amigo moçambicano, despoletou a situação que vou descrever, com amargura, mas que reflecte o resultado do que, recentemente, aqui escrevi sobre a escorraça de técnicos quando acontecem, e atabalhoadamente, mudanças de regime ou de sistemas políticos.

O que se avalia é que, a grande maioria dos alunos que procedem de Moçambique para estudar nas nossas Universidades ou Institutos Politécnicos, trazem uma má formação académica.

Chegam e ficam confusos, mostram-se desfasados e não entendem a matéria. Concluo que não estão preparados, porque não lhes foram dados conhecimentos suficientes para isso, ou seja, para estarem ao nível do ensino que se pratica, felizmente ainda, por cá.

Só uns poucos, porque frequentaram escolas privadas de alguma referência, por lá, com um corpo docente na sua maioria estrangeiro, é que conseguem - e mais ou menos - se situar no conteúdo das cadeiras. Dos colegas que contactei, por razão desta presença da filha desse casal amigo, posso adiantar que, para além da dificuldade em se entrosarem na exigência do nosso ensino, também sofrem com o desnível que encontram, em relação, à vida, porquanto passam a estar num País arrumado, lavado, exibindo qualidade no domínio dos transportes, da saúde e da maioria dos sectores com os quais passam a lidar. É uma mudança terrível que confunde, muitos deles/as, porque não têm estrado social, familiar e educacional para enfrentar esta realidade, a nossa. Pequeno exemplo: atirar um simples papel para o chão...

Não é difícil perceber as razões desta inabilidade dos alunos que se matriculam nas Universidades portuguesas.

Um estudo internacional, recente, mostra bem a imagem do ensino, em Moçambique: o nível de reprovação nos exames extraordinários dos ensinos primário (básico) e secundário atingiu, em 2017, os 76%.

Bastante elucidativo: na instrução primária, o problema é mais grave. Dados dos últimos 4 anos indicam, por exemplo, que nos primeiros anos de escolaridade 41.9% de crianças sabia ler e escrever e 54.1% não sabia ler nem escrever.

Mas, o que não deixa de ser preocupante, é o número, face aos que acabo de apresentar, das Instituições do Ensino Superior, em Moçambique: públicas são mais de uma dúzia; privadas situam-se numa trintena.

Mais relevante e confuso, conforme apurei: estudar numa escola com qualidade, para ter alguma preparação para entrar no Ensino de Portugal, é mais caro que frequentar uma Universidade no nosso País.

Quero terminar com perguntas: que tipo de formação tem um aluno que conclui o Ensino Superior moçambicano? E que interessa ter Universidades e Institutos Superiores se os chumbos no secundário são elevados? E que género de docentes, em todos os graus de Ensino, existem? 

Imagem retirada da net

António Barreiros