O SER HUMANO DENTRO DA SOCIEDADE

Após umas brincadeiras dos nossos pais, os genes necessários para nos fazer juntaram-se e dão origem a mais um humano. Depois da multiplicação das nossas células e das varias fases de desenvolvimento físico, chegamos ao estagio de não mais nos mantermos ao quentinho e alimentados pelo corpo da nossa mãe.
Assim que saímos do conforto maternal, o médico penaliza-nos com uma palmada para saber se estamos vivos e para ter a certeza que não temos liquido amniótico nos pulmões. Somos limpos e amamentados. Abrimos os olhos e todos esperam que futuramente sejamos alguém neste mundo que não é simpático para ninguém. Mesmo assim, é uma alegria para todos.
Durante os primeiros tempos, os nossos pais tratam de nós, alimentam-nos, vestem-nos, protegem-nos do frio e das ameaças e desse modo, vamos ganhando confiança para avançar, andar, aprender cores, texturas, as primeiras palavras. Depois, entramos na pré-escolar, onde continua a aprendizagem, mas esta mais seletiva e direcionada. A seguir, vem a escola propriamente dita.
Por esta altura, e apesar do crescente ritmo das responsabilidades pessoais, como fazer a cama, estar em casa a horas de tomar as refeições e obedecer aos nossos familiares, temos vontades e insistimos em querer brincar, ignorar os riscos, fazendo parecer que a vida é uma maravilha, um milagre. Tudo é lindo, mágico, sensacional. Somos imortais e independentes.
Os das gerações anteriores, tentam criar-nos uma ideologia de que somos úteis à sociedade que nos espera para nos espremer de varias formas. Rapidamente, chega a idade da escola, propriamente dita e a aprendizagem continua. Aqui se começa a perceber o que realmente somos e sentimos e o que conseguimos. No entanto, temos esperança de podermos ser mais.
Quando paramos, vemos os pássaros nas árvores a chilrear alegremente, observando-nos como uma possível ameaça. Também estes estiveram o seu desenvolvimento, mas aprenderam a ser livres de responsabilidades a não ser comer e reproduzir-se para manter a espécie.
Passa tempo e, aqueles que conseguem por vários motivos, chegam há derradeira fase de aprendizagem, a ultima escola. Nesta, tentam-nos ensinar a ser sensatos, lógicos, responsáveis, práticos. Mostram-nos um mundo onde podemos ser confiáveis, clínicos, intelectuais, cínicos. Não nos apercebemos, mas estamos a ser condicionados, direcionados.
O propósito muda, as responsabilidades crescem e as doenças mentais também. Nem todos aguentam a pressão. Questões inundam as nossas mentes e para um mundo inteiro que não dorme, as perguntas tornam-se demasiado profundas para uma pessoa simples.
Alguém que nos diga para que serve o que aprendemos e mesmo parecendo absurdo, digam-nos quem somos e para que servimos.
Ao longo dos anos, e quase a chegar ao momento das responsabilidades dos nossos progenitores, enfrentamos mais barreiras, estas criadas pelos mesmos da nossa geração, alguns da nossa escola, todos aqueles que aprenderam o mesmo que nós, mas que compreenderam os ensinamentos de forma diferente.
Se não seguimos na mesma direção, dizem-nos para ter cuidado com o que dizemos, vão chamar-nos de radicais, liberais, fanáticos, criminosos e tudo porque temos um pensamento, uma compreensão diferente sobre o que nos rodeia. Talvez porque tivemos uma educação onde não nos fizeram uma lavagem cerebral, mas onde era pedido um pensamento critico, autónomo, metódico, descomplexado. Cria-se a ostracização pessoal que nos afeta socialmente.
Para nos submeter de alguma forma, pedem-nos para nos juntarmos a algo, assinar o nome em petições, querem fazer-nos sentir que somos aceitáveis, respeitáveis, apresentáveis. Tentam tornar-nos num vegetal, algo obediente, em seguidores sem questões.
Quando chegamos a casa e olhamos a nossa família que ainda nos resta, quando o mundo inteiro dorme, as perguntas surgem no nosso inconsciente e são tão profundas para um homem tão simples que não nos deixa dormir.
O que aprendemos? Para que serviu esse esforço? O que somos? A mente turva-se e tudo parece absurdo. Na realidade, alguém que nos diga quem somos e porque fazemos o que fazemos. Pela gloria? Pelo poder? Por ter o nome escrito na historia da espécie?
No final, tudo se resume a estas questões: Quem sou eu? O que somos nós? Para que servimos?
José Ligeiro
