O SONHO DO GATO E DO RATO, O GRANDE “SIM”

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Tempo de mudanças, de vida que se reestrutura, em que algo bem fundo de mim se anuncia e me anuncia o que virá à minha volta.
Hoje é contigo, destino, com quem falo, porque me falas a mim através dos sonhos. Anunciaste-me o maior perigo que alguma vez corri num sonho e usaste a cor verde, a minha, para me assegurar que tudo correria bem, no fim. E continuo a acreditar. Acredito a ponto de serenar o coração quando se anima em batimentos ansiosos perante aparentes impossíveis, ou imagens ilógicas. Aprendi a confiar nessa cor, que foi a primeira que tomei como minha, ainda mal falava. A cor verde e a palavra “não”. Disse que não muitas vezes a ponto de ser conhecida na família como alguém que domina o termo sem rebates sentimentais de consciência. Como em todas as vidas, houve momentos em que deveria ter dito não e disse sim, outras em que o não deveria ter sido sim… ou talvez não, quem pode saber.

Há momentos na vida de um grande “sim”, um sim que abraça tudo, todas as possibilidades, todas as imagens desconhecidas do “grand néant”, o grande nada. O vazio dos astros. Penso que é onde estou agora. Mas esse lugar no tempo e no espaço é tão sereno quanto inquieto. O mundo tem a sua ordem, as suas acções, sequências, causas efeitos e apenas posso agir, nada mais do que agir nessa solidão humana que nada sabe, mas que intui. Intuo algo, como se estivesse prestes a ter, a receber desse destino poderoso que, em certa medida, me tomou à sua protecção. Mas o quê? O quê, meu Deus? Vejo figuras em passos de jogo, movendo-se à minha volta, mudando a cada volta da estrada a forma do meu caminho e eu não sei se apenas a forma se altera, mas o destino é o mesmo. De cada vez, tento adivinhar o que se segue na estrada e o mapa que trago comigo de nada serve. E, no entanto, não importa, porque nos sentimos sempre mais seguros a viajar quando nos perdemos do que quando seguimos linhas coloridas traçadas por mão humana.

Hoje, porém, a noção do grande misterioso “néant” é mais forte do que nunca. E, aparentemente, nem sequer posso escrever ao destino, porque o FB não me está a deixar publicar. Ouve-me porém, destino, e diz-me o que significa este sonho, o que tive a noite passada.
Nesse estranho sonho, estava de pé junto a um homem que abraçava. O rosto era indefinido, a sua figura quase etérea. No momento em que ia abraçar esse homem, um gato aproximou-se, rastejando pelo chão. Era branco e negro e trazia na boca um rato morto. Sempre que eu abraçava a figura masculina etérea, ou tentava, o gato avançava para mim com o rato morto nos dentes, enchendo-me de temor. A certa altura, avançou em minha perseguição e julguei que me tocaria com a sua carga repelente. O meu horror foi tal que, não podendo fugir rapidamente o suficiente para me afastar do gato, ergui-me no ar, como se a gravidade já não tivesse efeito no meu corpo. Subi no ar, cada vez mais, afastando-me do homem que antes abraçava. Mas, eis que notei que os meus braços haviam mantido o enlace e os dele seguravam-me, com uma firmeza leve, porem absoluta. As minhas pernas eram puxadas para o nada, esse nada alto e infinito, mas os seus braços não me largavam e eu rodopiava à sua volta, sem peso, nem rumo, segura, apenas, no seu ninho.
O sonho não tinha conclusão, apenas acordei sabendo que por mais assustada que ficasse, não me perderia no espaço, nem no tempo.
Fala comigo, esta noite, diz-me, uma vez mais, o que se segue.
MCM