PERDER

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Não te esqueças de chorar

por ti, pelos demais

pelos que são iguais e desiguais.

Não deixes de lamentar

o que já foi de ti,

o que ficou aqui

e tudo o mais que voou

no implacável jogo do que passou.

Não te envergonhes de carpir

a memória dos que tiveram de ir

e as traições dos que foram ficando

mesmo que só o faças quando

ninguém estiver a olhar para ti.

Não deixes de chorar

o que um dia quiseste conquistar

sem o conseguir

o que outrora desejaste ter

sem o possuir

o que no passado ficou por exigir

nesse canto, nesse obscuro canto

do teu tristonho desencanto.

Porque, queiras tal coisa ou não,

tu, meu ignoto e anónimo irmão,

tu salvarás esse teu ser

quando também puderes chorar

quando também tiveres de lastimar

o que tiveste de perder.

Amadeu Homem

 

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