Trapaças & Ficções – A Princesa “Ginga”

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Xi!-Zé (diminutivo fictício) é a filha “caçula” de um ex-ditador camuflado de um país de solos e subsolos muito afortunados, (des)governado por muita gentalha corrupta, com população muitíssimo mais do que muitíssimo pobre – pobre povo, apesar da alegria sempre estampada nos rostos e nas danças “tarrachadas”. O país, africano, chama-se AquiImperaACorrupçãoEALeiDaBala e é uma ex-colónia de um país pequerrucho que, em tempos, já foi conotado como grande Império, invejado até, então apelidado de OImpérioDos(Faz)Sentidos. Como é evidente, e irrefutável (que não significa bem a mesma coisa), ali não há classe média: ou muito rico, ou muito pobre! E valha-lhes a sorte e os deuses e as “macumbas” (aos muito pobres – está bom de se ver).

Lester (nome fictício) é engenheiro civil e licenciou-se no seu país de origem, país de revoluções alicerçadas em causas que se apregoavam como mui nobres, que por acaso cooperou com AquiImperaACorrupçãoEALeiDaBala, quer na luta pela descolonização, quer na guerra civil que se lhe seguiu. Lester pouco ou nada sabia de tijolos e de obras, mas isso não era relevante. Aprenderia a ciência no terreno, que de super-pateta pouco tinha, apesar de ser fã de amendoins assados e salgados e “agindungados”. Lester recorda-se bem do dia em que aterrou no aeroporto internacional da capital dos meninos-de-rua, para iniciar o seu trabalho vinte vezes melhor remunerado do que no seu país natal. E, casualmente, haveria de ser o técnico responsável pela reabilitação de uma moradia de Xi!-Zé. Uma moradia que a “caçula” ocupou por decreto assinado pelo “papy”, como que nacionalizada por motivos superiores – motivos do interesse da princesa, está claro -, sem nunca alguém ter indagado pela existência, ou não, de documentação registada em cartório a justificar a pertença. Por curiosidade, logo no dia em que o avião que transportou o engenheiro rumo à imigração aterrou, logo ele sentiu a vida a andar para trás: na zona das chegadas, assim que o apanharam desprevenido, perto do cartel de controlo da bagagem (e de passageiros) logo dois militares fardados o intimidaram e o encostaram a um pilar numa zona pardacenta, kalashnikov apontada à goela, a anunciar o primeiro mandamento de “boas-vindas”: «Camarada, aqui, quem manda somos nós e quem chega logo é mandatado para partilhar de livre vontade os dólares que trás nos bolsos, ou deveria trazer, a fundo perdido!». «Eu venho de um país onde os dólares estão proibidos!», logo se defendeu Lester. Mas os militares não estavam para folias e logo alegaram que o recheio da mala pesada que acompanhava o engenheiro deveria valer muitos dólares lá para os lados do mercado negro do Rock Santo. E Lester não pensou duas vezes e ofertou a mala recheada de recheio a tresandar a notas verdes, vivinhas.

Lester habituou-se rápido ao “modus vivendi” da república popular, mas não foi fino. E, entre “birras” geladas e amigos que, descortinou a seu tempo, eram inimigos, desabafou sobre o que não poderia ter desabafado, a propósito da fortuna pertença do «clã» e que se ampliava diariamente em percentagem directamente proporcional à inflação diária da moeda local. E, inexplicavelmente de acordo com a polícia judiciária do local, apareceu o engenheiro inanimado (morto pela ansiedade, como confirmaria a autópsia que demorou 12 meses) em certo dia de cacimbo, junto aos caixotes de lixo - por despejar há tempos - de uma pastelaria também ela nacionalizada pelo «clã» por decreto presidencial - a pastelaria fina SóPraRicos -, o azarento Lester.

Entretanto mudaram-se os tempos, e o patriarca, com o avançar da idade, determinou ceder o usufruto da presidência, a favor da “concorrência” esfomeada de milhões. Porque a fortuna familiar do «clã», espalhada pelo universo, estava consolidada e estar-se vivo é muito, mas muito, mais agradável do que ser-se alvo de um atentado furtivo.

Para espanto do mundo civilizado e atento, eis que Xi!-Zé começa a reclamar que a alternância de poder não está de acordo com as espectativas do povo que ela e toda a família exploraram durante décadas a fio, ignorando direitos cívicos e humanos e outros. E, pasme-se, torna-se reivindicativa, pronta a reclamar apoio “exterior” em proveito do próprio povo que ela e a família auxiliaram a arruinar. E, o mais surpreendente, começa a contestar sobre o património que julga pertença do seu reino sem trono, situado em território do antigo OImpérioDos(Faz)Sentidos. Esquecendo-se de que, na altura da conturbada descolonização, quase a totalidade dos bens ocupados e nacionalizados pelo “seu povo” de AquiImperaACorrupçãoEALeiDaBala, seriam pertença de muito boa gente de boa-fé e boa-índole que ficou depauperada de tudo, sem “justa causa”.

Enquanto isso, Xi!-Zé e a sua família, apesar de um presságio de exílio muito bem premeditado, continuam a pavonear-se pelo mundo, calçados e vestidos a preços que fazem corar a pobreza do povo da sua pátria de raízes. Pela qual nunca lutaram, mas que exploraram até ao limite do que lhes foi permitido pelo bureau político a que pertenciam os que efectivamente lutaram. E pelos «”Kambas” da confraria» internacional, com a conivência do cinismo da maioria das potências impotentes.  

Jorge Sá

(Jorge Sá não respeita o AO90)