3 de dezembro

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Dia Internacional das Pessoas com Deficiência
Para comemorar o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência, a história de Hikari, deficiente mental.
Corria o ano de 1963, no Japão, ainda com a memória fresca das bombas atómicas da II guerra mundial, nasceu Hikari.
Hikari nasceu com uma cabeça enorme e um buraco na cabeça que deixava ver o cérebro.
O pai daquele bebé entrou em desespero. Desapareceu da maternidade, deixando a criança à mãe. Entrou em conflito consigo mesmo e com os médicos que assistiram o nascimento do filho. Refugiou-se no álcool. Deixou-se arrastar durante dias numa vida desregrada.
Desses dias de desespero deixou-nos um relato romanceado na obra literária “Não Matem o Bebé”. Um conflito entre pai e médicos que assistiram ao nascimento do filho. Os médicos a insinuar que seria melhor deixar morrer a criança. Era deficiente!...
Fazer morrer! Só com autorização expressa dos pais, para se ilibarem do crime. O pai a desejar o mesmo que os médicos, mas a recusar a autorização formal.
A criança foi operada. Ficou com alguma incapacidade visual, limitações motoras, dificuldades na fala, com ataques epilépticos, deficiência intelectual, com autismo.
Um dia, num passeio com os pais pelo parque da cidade, ouviu o canto de um pássaro.
Repetiu a melodia do canto do pássaro com toda a precisão.
Os pais ficaram espantados, embebecidos, vaidosos. E mais atentos aos sons e às tonalidades do canto dos pássaros e das respostas do filho.
Ouvido tão apurada para a música parecia impossível, e logo num menino com deficiência!...
Compraram discos com cantares de pássaros e os pássaros identificados pelo nome.
A criança logo que ouvia o canto, passou a identificar os pássaros pelo nome.
Os pais descobriram que tinham um menino com capacidades raras, únicas. Procuraram um professor de música. A criança desenvolveu capacidades.
Teve lições de piano, de composição e de solfejo.
O menino que tinha nascido para ser excluído, como outros meninos com deficiência, desenvolveu capacidades ao ponto de distinguir pequenas diferenças de interpretação de peças de grandes mestres da música.
Já crescido e na escola, o menino usava fraldas. Como outros jovens com deficiência mental usam ao longo da vida.
Mas na Japão, na década de 60 e 70 do século passado, já havia Ensino Especial e na Escolas Especial já havia Lar Residencial para crianças com deficiência mental.
Hikari foi passar uns dias ao Lar Residencial da Escola Especial. Nessa escola havia professores preparados, dedicados e sensibilizados para ensinar e treinar crianças com deficiência mental a não fazerem xixi na cama e a deixar de usar fraldas.
Com aprendizagem o jovem Hikari deixou de fazer xixi na cama.
E aquele jovem que nasceu para a exclusão, conseguiu ter uma vida com inclusão.
Depois da escola especial passou a frequentar Oficina para Deficientes, onde tinha ocupações com trabalhos úteis e produtivos, como o de fazer limpezas nos parques da cidade.
Da Oficina para Deficientes, onde Hikari andava, um grupo de deficientes ia fazer limpeza ao parque da cidade. Numa dessas saídas em trabalho útil encontrou um bebé abandonado. O grupo levou o bebé para a Oficina de Deficientes.
A este Bebé dedicou Hikari uma peça musical com título “Filho Enjeitado”, peça de ritmo e de melodia tristes que deixou o professor de composição confuso.
A história desta criança com deficiência mental, com autismo, com frequentes ataques de epilepsia, com limitações motoras e de compreensão pode ser lida e estuda nos livros romanceados “Não Matem o Bebé” e no livro “Dias Tranquilos”, do escritor japonês Kenzaburo Oé, Prémio Nobel da Literatura 1994.
Manuel Miranda
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