Alguém foi espreitar a Campolide e veio de lá com isto. É Lisboa

 

Carlos Reis

14 de maio às 14:25

O novo campeão de um pequeno sector da comunidade LGBT, André Couto, presidente da junta de freguesia de Campolide, é um verdadeiro postcard do PS urbano lisboeta. Um expoente do pedronunismo oficial. Moderno, trendy, cosmopolita. Mas nele não falta também o cardápio do costume: a confusão entre gestão pública e gestão de outros interesses, de instrumentalização de instituições, de confusões várias entre a coisa pública e o partido, entre sociedade civil e o assalto do aparelhismo.

 

Ainda há meses André Couto foi notícia por estar a ser investigado pelo Ministério Público e pela Segurança Social por suspeitas de má gestão e várias ilegalidades alegadamente cometidas em mais do que uma de várias Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS), enquanto nelas exercia cargos na direcção. Na Fundação António Luís de Oliveira foram alegadamente cometidas várias irregularidades que apontam para má gestão. E está em curso um inquérito no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa, tendo sido já ouvidas várias testemunhas.

 

E também há o caso do Externato Educação Popular, cuja gestão está a ser alvo de investigação por suspeitas de desvio de verbas da instituição para alegados pagamentos encapotados de salários de cinco membros da comissão executiva. E o Instituto da Segurança Social tem em curso uma auditoria às contas da instituição. Este caso é aliás paradigmático: configura uma teia de várias ligações perigosas entre funcionários da junta e o Externato, a contratação de empresas com ligações a funcionários da junta, o pagamento encapotado de salários e a violação da lei com a adjudicação de ajustes directos para a contratação de uma empresa favorecida para a realização de obras.

 

A freguesia de Campolide é aliás à boa maneira do PS, também um negócio familiar: André Couto é o presidente da Junta e o seu pai, Joaquim Couto da Silva, também do PS, é o presidente da Assembleia de Freguesia. Em Campolide, e no PS local, mandam pai & filho.

 

Mas o poder do filho e do pai e os tentáculos familiares não se ficam por aqui: André Couto controla as duas IPSS da sua freguesia – o Externato Educação Popular e a Fundação António Luís de Oliveira – onde vários funcionários da junta, também do PS, exercem vários cargos nos respectivos órgãos sociais. Aliás, diz quem sabe, que ver as listas de associados das duas IPSS é praticamente igual a consultar o quadro de pessoal de funcionários da junta.

 

Aliás no Externato Educação Popular, entre a lista de sócios encontram-se precisamente 28 funcionários da junta independentemente de estes funcionários não terem qualquer ligação ao externato e não terem lá filhos a estudar na escola. Aliás o processo de adesão a sócio é tão restritivo que têm existido constantes queixas de ter sido barrada a admissão de sócios a vários pais, encarregados de educação e funcionários do próprio Externato. O presidente da associação de pais, por exemplo, tenta ser sócio há dois anos e não é aceite. A razão é simples de se perceber: não é socialista, nem pertence ao núcleo de proximidade do caudilho de Campolide.

 

Na Fundação António Luís Oliveira – presidida por André Couto desde 2015 – o seu secretário é também o tesoureiro na junta. E a anterior secretária da junta foi também a sua tesoureira. E a sua sucessora como secretária da junta é também a presidente da Assembleia Geral - cargo que acumula com a comissão executiva do externato da Educação Popular. Já por sua vez o actual tesoureiro da Fundação António Luís Oliveira, é sócio-gerente de uma entidade fornecedora da outra IPSS, enquanto ainda faz uma perninha como tesoureiro na junta de freguesia da Mina de Água, no concelho vizinho da Amadora, presidida pelo seu pai, também do PS.

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Depois é sempre a somar: é o tesoureiro da junta de Campolide que é ao mesmo tempo advogado avençado pela outra IPSS que os seus colegas de junta controlam. Entre outros casos.

 

Estes são alguns dos exemplos da teia de várias ligações em que assenta parte do poder socialista numa das suas 21 juntas de freguesia em Lisboa. Multipliquem agora isto pelo país inteiro.

 

André Couto tem aliás um peculiar apetite por acumulações: é presidente de junta, função que acumula com a administração da Valorsul, empresa pública onde ganha quase 4000 euros por mês, e até pelo menos há dois anos ainda ainda recebia remuneração e ajudas de custo enquanto colaborador das duas IPSS que controla.

 

O resultado disto tudo? Queixas de desastrosa gestão das IPSS em causa, contas bancárias penhoradas, encargos muito elevados, dívidas das instituições, irregularidades várias.

 

Mas, entretanto, o que é que vemos? Do que é que falamos?

 

De passadeiras alegadamente arco-íris que nem sequer isso bem são. Apenas uma espécie de padrão de uma camisa Façonnable dos anos 90 estampada no asfalto. Daquelas trendys e caras que só os betos com papás ricos tinham dinheiro para comprar.

 

É a política de um certo PS. Má gestão, nepotismo, aparelhismo. Mas dá nas vistas.

Imagem retirada da net

José Costa Pinto