INFERNO OU NADA?

 

Hoje, enquanto cortava o cabelo no Salão Fati, conversei, para passar o tempo, sobre o valor da existência com uma cliente da cadeira vizinha. Se é melhor não-ser que ser. Ela pugnava, como é natural nas mulheres, pela excelência da vida. Por mais que se queixem, as mulheres adoram estar por cá. Eu, claro, racional até à raíz do meu cabelo branco, defendia a superioridade da não-existência.

 

A dado passo lembrei-me destes quatro versos que a Marquesa de Alorna colocou na boca do excelente padre renegado José Agostinho de Macedo, um português para a nossa eternidade e que tanta jeito nos faria hoje. Não me lembrava dos versos exactamente e por isso, não sendo esse o lugar para consultar o tio google, por uma questão de bom gosto não os recitei. Detesto estropiar a versalhada. Tanto pior para a minha interlocutora, que assim ficou sem os degustar. E tanto melhor para vocês, que lhe ficam a dever o prazer de os lerdes agora. Ei-los:

 

– Hás de morrer. Não tens medo da morte?

Não te dá susto algum suplício eterno?

– Também não. Os diabos têm juízo,

E há boa companhia lá no Inferno.

(Marquesa de Alorna)

 

Mas melhor do que o Inferno é o Nada. A companhia por lá é mais do que boa, é excelente.

José Costa Pinto