O Sorriso das Pétalas Amarelas – O país dos pequenitos

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A sua tensão arterial descontrolou-se porque um especialista que foi informado antes da prescrição de determinado medicamento ignorou todos os males de que ele padecia, apesar de os ter reportado. E os efeitos secundários do medicamento receitado, bem descritos no folheto informativo, pelos vistos, não eram do conhecimento do especialista. Adiante. Os filhos não iam à escola há um mês, quinze dias por causa da greve dos professores, outros quinze por causa da greve dos transportes. Em frente. A mulher, que já tinha tido um enfarte, começou a sentir a cabeça à roda com a desordem quadrada do estado das coisas. Continuando. O coração da mulher não aguentou e ela teve novo enfarte, recorrendo às urgências de um hospital do estado do sítio ao inicio da noite fatídica. Foi atendida oito horas depois, havia pessoal em greve. Foi-lhe colocada pulseira verde. Três horas passadas a mulher foi chamada a ser presente a um médico que esboçava bocejos de trinta em trinta segundos, exausto de quarenta e oito horas de trabalho quase ininterrupto. Depois aguardou três horas para fazer análises. Depois, mais três para confirmar um valor elevado detectado em determinada enzima. Depois foi internada. Depois, ficou doze horas deitada numa maca que se deixou quase ao abandono no corredor da enfermaria enquanto se aguardava por uma vaga derivada da confirmação de alta de algum paciente. Depois, na manhã do dia seguinte apareceu uma equipa que solicitou todos os exames anteriores para estudo. Depois, passadas três horas de estudos a equipa decidiu que era necessário um novo cateterismo. Depois, quando se ia dar início à intervenção o seu coração, exausto, “decretou greve”. O marido chorou a mulher. Os filhos choraram a mãe. Alguém, na enfermaria, comentou «É a vida!».

Depois, no telejornal dessa noite, mera coincidência, o ministro da saúde foi entrevistado e realçou que, no seu ministério, tudo “corria às mil maravilhas” - como nunca acontecera até então. Avante. 

No ano seguinte ele ignorou o seu dever cívico e não votou nas legislativas, indignado.  

Luís Gil Torga
(Foto retirada da net)