Pedro Morais Leitão, que um dia imaginou o Maisfutebol, escreve sobre os 20 anos

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Um homem numa cruzada. Lembro-me de ser essa a impressão que retive do Luís Sobral, quando tivemos a primeira conversa sobre o projeto que viríamos a chamar de Maisfutebol. Não me lembro exatamente quando a tivemos, mas foi no início do ano de 2000, ao pequeno-almoço numa pastelaria em Lisboa.

Como responsável do projeto para a Internet do grupo Media Capital, a minha agenda nessa conversa era clara. Tinha posto em operação o portal IOL e em curso as reformulações dos sites da TVI, das rádios, do Independente e do Diário Económico. O Miguel Pais do Amaral, patrão do grupo, tinha lançado novos desafios, entre os quais criar uma editoria de desporto forte para o online, que a prazo poderia servir os outros meios. Chegaram várias recomendações de nomes para encabeçar o projeto, só cheguei à conversa com o Luís.

O Luís, de olhar meigo e voz suave, via claro e falava com determinação. Após uma década de carreira jornalística n’ A Bola, queria mais. Não mais dinheiro, nem mais protagonismo ou mais poder.

Estava numa cruzada - queria mais verdade.

Queria escrever mais sobre os desportistas do que sobre os dirigentes desportivos. Queria trabalhar num projeto focado no que se passou durante o jogo e dentro do campo, mais do que fora deles. E queria uma equipa dedicada ao desporto em si, mais do que à arte do relato desportivo.

Com esse discurso conquistou-me, e embarquei na sua cruzada.

Nesse dia fiquei a saber como eram diferentes os nossos percursos e as nossas maneiras de ver a vida: não tínhamos a mesma visão da religião nem as mesmas opiniões políticas, não havia um tema social fraturante em que conseguíssemos concordar totalmente. Mas também fiquei comprometido em ajudar o Luís a dar ao mundo do desporto mais verdade.

Passar das palavras aos atos foi rápido. Os primeiros jornalistas que se juntaram também eram cruzados: o Nuno Madureira, a Berta Rodrigues, o Ricardo Gouveia, o Norberto Lopes, o Filipe Caetano, a Magda Magalhães, o Luís Mateus. Impressionou-me a autonomia e disciplina desta equipa pequena, que cobria os jogos de futebol no «Ao Vivo» ao sábado e ao domingo, sem nunca descurar o fluxo regular de notícias durante todos os dias de semana.

Tiveram também o mérito de conquistar a equipa técnica. O Fernando Soares, ex-jornalista convertido em diretor técnico do IOL, foi grande apoiante do projeto, o que ajudou a que, ao longo dos primeiros anos, o Maisfutebol se mantivesse em constante evolução. Não que não houvesse problemas; ninguém desses tempos esquecerá as famigeradas mensagens de erro, da «cache» e da Oracle. Mas o Maisfutebol foi o projeto editorial em que mais inovámos.

Exemplo dessa inovação foi a primeira transmissão pela Internet em Portugal de um jogo de futebol da Primeira Divisão ao vivo. A Media Capital era na altura sócia do União de Leiria, o que lhe permitia gerir os direitos de transmissão dos jogos da equipa de futebol desse clube. Foi assim que o Maisfutebol transmitiu ao vivo o União de Leiria-Sporting da época de 2001/2002. Com José Mourinho como treinador da equipa de Leiria, o Sporting do goleador Mário Jardel não conseguiu passar de um empate a uma bola.

No Maisfutebol também não conseguimos passar de uma pequena audiência. Quando atingimos os 120 espectadores simultâneos, a Internet nacional começou a sofrer problemas de largura de banda e não conseguimos ir mais além. A tecnologia de hoje faz-nos rir desses tempos, na altura todos voltávamos para casa frustrados pela incapacidade de, na Internet, chegar aos calcanhares das audiências da televisão.

Com essa frustração veio a vontade de fazer mais com a TVI. Aos poucos, o trabalho do Maisfutebol foi sendo reconhecido e a equipa começou a envolver-se na transmissão televisiva de jogos ao vivo. Lembro-me de quando, pela primeira vez, reconheci as vozes do Luís Sobral e do Nuno Madureira entre os comentadores de um jogo, e também de ser surpreendido pela Irene Palma em antena, «cara bonita» a saber de futebol era novidade.

Essa distância para a TVI já lá vai, hoje o Maisfutebol tem o seu espaço semanal na televisão. E muitas outras coisas mudaram. O Luís Sobral está na Federação Portuguesa do Futebol, onde tem feito um trabalho extraordinário com o Tiago Craveiro. E muitas pessoas da equipa que eu conheci partiram noutras direções – já acompanhei o Luís Mateus no Expresso, soube que agora está n’A Bola TV.

Mas algumas coisas não mudaram. Alguns dos fundadores continuam no Maisfutebol, e o Nuno Madureira continua certamente a chutar bem com os dois pés. Outras coisas nunca mudarão: uma das mais importantes para mim é o valor de alguém que quer falar a verdade.

Parabéns Maisfutebol!!!

*Texto escrito por Pedro Morais Leitão, que foi CEO da Media Capital Multimedia entre 1999 e 2008 e que atualmente é CEO da Prio 

Redação Maisfutebol