A UNIVERSIDADE DE COIMBRA VAI APANHAR A “RAPOSA”?

A UC VAI APANHAR A RAPOSA2

 

Muitos são os professores que dizem que o sistema usado na Educação não serve o mundo em que estamos a viver. Verificamos que muito menos servirá o que virá. Não funciona para professores nem para alunos, nem para o mercado de trabalho!

Comecemos por cima.É de notar que um doutoramento sério deve possuir boas condições para fazer investigação, o que exige a existência de centros de investigação de excelência, sendo de notar que dos 233 centros de investigação, existentes em Portugal nessas condições, apenas 11 estão localizados em politécnicos.

A Educação em Portugal tem pela frente diversos e complicados desafios, começando, desde logo pelo mais importante que está ligado à situação demográfica e ao progressivo envelhecimento do País.

Entre 2009/10 e 2020/21 o ensino não superior, incluindo o pré-escolar, perdeu cerca de 421.000 alunos (22%), dos quais cerca de 90.000 no ensino secundário (19%). Este decréscimo irá continuar nos próximos anos e irá afetar todo a forma como hoje se vê a Educação em Portugal.

Medidas políticas paleativas protegeram, até agora, o ensino superior desta redução de alunos; usou-se o ingresso dos maiores de 23 anos, criou-se a captação de alunos estrangeiros (com propinas muito altas) e o aumento da escolaridade obrigatória. Mas o efeito destas medidas políticas está a esgotar-se e há que encarar o futuro com realismo procurando novas soluções.

De acordo com previsões da DGEEC haverá, entre 2020/21 e 2035/36, uma diminuição significativa dos alunos do 12.º ano de escolaridade (os candidatos naturais ao ensino superior) que será desigual nas várias regiões de Portugal, atingindo em particular a Região Norte e Centro.

O segundo grande desafio é o da falta de equidade no acesso ao ensino superior na medida em que os alunos provenientes das famílias de níveis socioeconómicos mais baixos terão muita dificuldade em aceder aos cursos mais apetecíveis. Pensava-se que com a expansão do ensino superior este problema tinha sido resolvido. Porém, o que num sistema de elite, com um pequeno número de vagas no ensino superior, era uma luta para conseguir entrar, com a grande expansão do sistema alterou-se o paradigma e passou a ser uma luta para entrar nos "melhores" cursos.

Como se sabe, as bolsas de estudos são atribuídas aos alunos de famílias com menores rendimentos per capita, pelo que a maior ou menor percentagem de bolseiros num curso permite avaliar o nível de equidade. Por exemplo, nos cursos de Medicina a percentagem de bolseiros é de 13,5%, mas na Enfermagem é de 38,1% e na Fisioterapia de 26,9%. E esta é uma constante quando se comparam cursos do ensino universitário com cursos de politécnico. Por exemplo, as percentagens de bolseiros são 24,7% nas Ciências Farmacêuticas (universitário) e de 38,7% na Farmácia (politécnico), ou de 12,4% na Engenharia Química na Universidade e de 22,9% no mesmo curso do politécnico.

De um modo geral as percentagens de bolseiros são maiores no politécnico (25,5%) do que na universidade (17%), embora haja também variações significativas por instituição e região. Por exemplo, as percentagens de bolseiros são muito mais baixas na região de Lisboa: 8,65% na Nova, 8,88% no ISCTE e 10,99% na UL e, mesmo no IPL essa percentagem é de apenas 12,37%.

Estes resultados também mostram a dificuldade de alunos das classes mais desfavorecidas conseguirem um lugar no ensino superior público nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Não é por acaso que nestas duas regiões se verifica a maior percentagem de alunos que não prosseguem estudos no ensino superior.

Algo semelhante observa-se quando se analisam os resultados, não em função do estatuto socioeconómico, mas olhando para a percentagem dos pais com ensino superior. Num dos anos em que procedemos a essa análise a percentagem de alunos com pais de formação superior era de 70% nas medicinas, ao passo que 70% dos pais na enfermagem não tinham formação de nível superior.

O terceiro grande desafio é o do pessoal docente do ensino não superior. Na verdade, tem-se verificado uma progressiva degradação do estatuto social destes professores, bem como das condições remuneratórias e de carreira. Não é possível atrair jovens para esta carreira com as condições que são oferecidas de que se destaca a falta de estabilidade nas colocações. É muito significativa a diminuição do número de candidatos a cursos de formação de professores o que faz antever sérias dificuldades futuras caso a situação não seja invertida.

Perante estes resultados é necessário que Coimbra esteja atenta para não levar uma “raposa” como prémio por não ver à distância.

AF