CONTRADIÇÕES HUMANISTAS EM COIMBRA
O Ano da Serpente foi celebrado com pompa e circunstância pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC) a 3 de Fevereiro deste ano de 2025. O presidente da CMC, José Manuel Silva, conhecido, também, pela sua solidariedade ao povo ucraniano e contra o crime contra a invasão da Rússia de Putin, recebeu com grandes celebrações o embaixador da República Popular da China em Portugal, Zhao Bentang no que pode ser entendido como uma contradição de valores humanos.
Os crimes perpetuado até hoje contra o povo da Ucrânia pela Rússia iniciou a 24 de Fevereiro de 2022, quando o presidente russo Vladimir Putin ordenou a invasão do leste da Ucrânia. Crimes que continuam no ano de 2025 e que estavam a completar os 3 anos quando o presidente da Câmara de Coimbra recebe, com grande cerimónia, paga com dinheiro público, o representante de um dos países com um governo tão ou mais sangrento do que o governo de Putin.
É importante lembrar que o governo chinês tem levado a cabo abusos massivos e sistemáticos contra pessoas de etnias predominantemente muçulmanas na Região Autónoma Uigur de Xinjiang. Inúmeras pessoas têm sido arbitrariamente detidas ou enviadas para campos de internamento ou prisões, num sistema que faz parte de uma campanha alargada de subjugação e assimilação forçada destas minorias étnicas de Xinjiang. Esta informação é de uma instituições internacionais a que o senhor presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, alegadamente não desconhecerá.
Segundo o Relatório Anual sobre a Pena de Morte lançado esta semana pela Amnistia Internacional, dá conta que numa análise realizada a 15 países (que ainda continuam a ter pena de morte), a China está em primeiro lugar com mais de mil condenações à pena de morte, algumas das vítimas eram mulheres.
Neste estudo está a seguir à China o Irão com 972 vítimas da pena de morte; a Arábia Saudita, com 345, o dobro de 2023, em que se contabilizou 172; a Somália com 63 vítimas e o Iémen com 38 pessoas condenadas à pena de morte.
Também temos que considerar que há uma ligação histórica de Coimbra à cultura da China que remonta ao século XVI, quando missionários jesuítas formados no Colégio das Artes e na Universidade de Coimbra (UC) levaram valores humanistas e conhecimento científico, filosófico e religioso ao Império do Meio. A influência chinesa também se fez sentir na arte e no património da cidade, em particular na Biblioteca Joanina e pela arte na Europa sobretudo do século XVIII. Porém distingue-se o governo da cultura do país, assim como se distingue um governo municipal da cultura do seu Concelho.
Tal como, eventualmente, aconteceria se o embaixador da Rússia, durante o governo de Putin, viesse a Coimbra, com certeza não seria recebido com pompa e circunstancia, com investimento de dinheiros públicos, pelo presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, a julgar pelo alfinete com a bandeira da Ucrânia na lapela do seu casaco. O que não impede de reconhecermos a enorme riqueza cultural da Rússia.
Os valores humanistas levados pelos missionários jesuítas, os portugueses formados no nosso Colégio das Artes e na Universidade de Coimbra (UC), acabaram por ser esquecido e, até, perseguidos pelo governo de Xi Jinping, considerando os crimes continuados pela sua política de ditadura do Partido Comunista Chinês.
Perto de comemorarmos o 25 de Abril de 1974 convém lembrar os valores que esta data trouxe a Portugal e que é necessário preservar.
AF
11-04-2025