JUNTOS, SOMOS COIMBRA

Antonio-Barreiros66.png

Vinte e sete anos depois, com intervalos pouco duradouros, Manuel Machado recandidata-se ao cargo de Presidente da Câmara Municipal de Coimbra.

Já aqui o escrevi e reescrevo: a mesma figura para presidir aos destinos da autarquia de Coimbra já cansa. Ele próprio – nota-se – está gasto, estafado e já se aboborou (expressão popularesca que aprecio) no lugar. Já conhece os cantos à casa demasiadamente bem para não mudar. Já se identifica com a maioria dos funcionários que precisam de sofrer um abanão. Já – e ele que me perdoe, mas deve encaixar esta minha “boca” – merece ir a banhos, ou seja, rumar ao descanso. Pode dar um consultor, para a área do poder local, do PS.

Coimbra, como se pode avaliar, deixou-se ultrapassar, perdeu frescura, desceu muitos lugares no ranking (palavra em voga) das Cidades portuguesas, esmoreceu na sua vitalidade de centro urbano e já não tem o peso, até a nível central, na Capital, que gozava poucos anos atrás.

São as elites de Lisboa que comandam o País; são as mesmas, mas as que representam os meninos das associações académicas que estão nos poleiros dos poderes; e são essas que se têm apoderado da grande fatia da governação e dos cargos públicos de relevo. Gentes com “pedigree”, de Coimbra, Porto, Braga ou do interior beirão, transmontano, alentejano ou algarvio, assim como insulares, já quase nada riscam na Capital. Os intelectuais dessas paragens deixaram de ser chamados para desempenhar funções de destaque na Capital. A esmagadora maioria dos homens do aparelho dos partidos, os que os regulam e manipulam, dominam as Instituições e toda a engrenagem do Estado, o que não deixa de ser preocupante. Aliás, está à vista como vai o andamento do País… A lei eleitoral “ajuda” o vencedor que amealhe os votos na grande Lisboa.

Mas voltando a Coimbra. Se não acontecer um “tremor de terra” no próximo dia 27, dia das eleições do poder local, a Cidade corre o risco de se atrasar mais ainda, de estacionar mais 4 anos, de se redomizar sem perceber que o diálogo é fundamental para as Instituições, Entidades e outros tecidos produtivos do Concelho, além de ficar para trás (no tempo actual perder tempo custa caro…) comprometendo o seu presente e espatifando o seu futuro.

Como é que quem se entrega a certos cargos não percebe que não se pode eternizar nos mesmos, sob pena de deixar de ter lucidez, capacidade e destreza para cumprir a missão que lhe foi entregue? Quem se deixa dormir e acaba ressonando no lugar que lhe foi confiado, acaba por se desleixar, se arrastar, se desinteressar e se estar nas tintas. Acaba por ficar vazio de acção, de ideias, de realismos, de não enxergar os problemas, de não avistar as situações que podem encravar a gestão e de não detectar o que lhe passa ao lado. Quem permanece mais de um quartel de século na mesma cadeira…seria melhor calçar umas pantufas, vestir o pijama, esperar a hora do vitinho… e deitar-se.

Na hora da despedida de M. Machado, Coimbra terá e ficará com mais encanto.

Coimbra merece uma nova fase, a vida política da Cidade também e o caminho futuro só poderá abrir-se se soar a mudança.

Manuel Machado já cumpriu a sua parte. Bem ou mal, a História o dirá, daqui por mais de 50 anos. Se ficar, contará que houve um autarca, M. Machado, que se estatelou na governação municipal cerca de 30 anos. É obra…é tipo um salazarzinho, em termos de permanência…repetida e estafada.

Sinceramente, estava para não ir votar, mas como gosto de Coimbra, porque nela nasci, me fiz ao trabalho e exerci algumas missões a que me dediquei com todo o empenho, está a existir um apelo para comparecer na mesa eleitoral. E hei-de ir…só se alguma coisa – grave – me impedir.

António Barreiros