Sem rei nem roque, ou é intencional?

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Faço diariamente o trajecto entre as ruas de Aveiro, Infante D. Henrique, escadas e Ladeira do Carmo até à Sofia, ajudado pelo empurrão de todos os santos! Já para cima, é de autocarro, pois não há meio de ser montado o falado elevador da Baixa à Conchada, do tipo daquele que está ao fundo do Mercado D. Pedro V, salvo seja, pois, a tal acontecer, que funcione!...

Este aparte tem por finalidade situar a questão que aqui deixo, e saber se é intencional, por razões de embelezamento urbanístico ou outras. Ou trata-se de uma situação de incúria e desleixo de quem, sem rei nem roque, deixa que as heras e outras trepadeiras infestantes invadam já candeeiros públicos e tapem as guaritas e a rede ao longo dos passeio e das referidas ruas, cujo espaço pertenceu ao quartel que esteve instalado no antigo Colégio da Graça. E a cidade, perante tal tapume, deixou de poder ser olhada cá de cima!   

Mas não se fica por aqui esta que é tida como uma incompreensível situação do “deixa andar”. Com efeito, ao descermos as escadas da Ladeira, também os muros, por ali abaixo, são agora invisíveis em grande parte da sua extensão, por causa daquela que é uma verdadeira praga naquelas imediações. E a Cerca de S. Bernardo ali está em frente, a poder testemunhar! A confirmar esta afirmação aponto o estado calamitoso de abandono e, direi mesmo, de risco de incêndio em que se encontra aquele que sempre foi conhecido pelo Grupo das Patelas ou Grupo Recreativo 1º de Janeiro, cuja fundação remonta a 1915. Desde há largos anos sem actividade e sem qualquer manutenção, o cenário é verdadeiramente dantesco pois, a par do espaço envolvente, tudo quanto é instalações está completamente coberto de heras e de densas camadas vegetais. Ver para crer! E há uma Junta de Freguesia, e uma Protecção Civil, e uma Câmara e tantas outras entidades! Só não há regedor!

 As informações que tinha sobre aquele grupo eram vagas e pouco consistentes. Porém, a situação alterou-se quando, numa destas tardes, fui apresentar as felicitações que se impunham ao nosso conceituado comerciante Senhor José da Costa. Tal aconteceu no contexto da distinção de Loja com História, atribuída por unanimidade pela Assembleia Municipal à sua ourivesaria, actualmente a mais antiga da cidade, com 86 anos, e que usufrui de um prestígio que faz dela um estabelecimento de referência em Coimbra. As conversas são como as cerejas e chegámos às Patelas, aquele Centro que o nosso interlocutor tão bem conhecia, lembrando com saudades, tê-lo começado a frequentar desde muito menino, levado pelos pais aos domingos. E volveu há oitenta e cinco anos, dizendo que eram muitas as famílias que faziam o mesmo e ali passavam o dia, munidos do almoço, do lanche e do jantar, só regressando à noite a casa. E referiu-nos que aquela colectividade, de que sempre foi associado, funcionava como um lugar de encontro, onde se faziam festas, arraias, fogueiras e outros convívios, mas também jantares de casamentos, baptizados e aniversários nas suas salas, boas salas que tinha, e eram alugadas por quem promovia aqueles banquetes. E concluiu: - Aquele era um espaço importante para Coimbra e, nesse tempo, não havia muitos mais!

 

António Castelo Branco