A HUMANIDADE ATUAL
Nos últimos anos, vejo o mundo a ser arrasado lentamente. Questões políticas, económicas, de género, de cor, origem ou até civilizacional. Seres humanos a digladiarem-se por ideias contrárias em ambas as partes, lutando apenas por objetivos falsos e em nome daquilo que chamam de ‘progresso’.
Parece-me que continuamos a comportar-mo-nos como australopitecos, mas com tecnologia avançada. Continuamos a matar-nos sem dó ou piedade e ao mundo ao nosso redor. Famílias destruídas, sociedades lançadas para situações infernais devido a más decisões políticas ou ambições económicas.
Tudo isto é feito de forma secreta, mas com a designação de ser em favor do povo comum, resultando na possibilidade de ter sucesso apenas de alguns que escapam impunes, deixando aos seus descendentes a fortuna que acumularam.
Não nos podemos salvar desta forma, especialmente quando não sabemos porque estamos a lutar e se essa luta nos favorece a curto/longo prazo.
Estranhamente, criamos deuses e heróis que são perfeitos e melhores que nós em tudo. Belos e ou musculados ou de outra forma fisicamente perfeitos, esperamos que sejam eles a melhorar-nos a todos os níveis. Todos queremos ser como eles. Os Adónis da pureza.
A ambição toma conta de nós e leva-nos a cometer crimes que ignoramos porque achamos ser para o nosso bem. Mas não é!
Não funcionamos como as formigas ou abelhas que trabalham para um bem comum, para a sobrevivência da espécie. Lidamos com a tentativa da supremacia pelos números desde que sabemos que somos humanos. Tentamos, de alguma forma, sermos mais, não melhores, que tudo o resto que existe à nossa volta e acabamos por destruir o que somos, os nossos objetivos e o que queremos realmente ser ou ter.
Apesar das incontáveis guerras e mortes, conseguimos manter a espécie viva, mas a que custo?
Ao longo de milhares de anos, temos adorado falsos profetas que nos prometem o que queremos, dinheiro, o novo deus a adorar e a seguir incondicionalmente. Os lideres essa mesma sociedade levam-nos a lutar por alcançar um objetivo financeiro para o qual poucos tem hipótese de atingir ou até manter. Perdeu-se o interesse no conhecimento, nas relações interpessoais, na capacidade orgânica, na organização. Dinheiro, isso é o que interessa sem contestações, pois este paga-nos as despesas múltiplas a que somos forçados a abraçar: Carro novo, casa, adereços para a casa, ferias nacionais ou outras, etc.
Por outro lado, somos forçados a seguir gente com pouca capacidade intelectual, mas bem falantes que nos vendem a “banha da cobra” como objetivos que temos de seguir e alcançar para aquilo que chamam de “bem comum”. Quem mais ganha com isso? Os comuns ou os bem falantes?
A natureza tem uma forma eficaz de eliminar estes inúteis, mas até isso conseguimos tirar através de leis que apenas servem a alguns.
Há uns anos, num jantar de grupo de amigos, e por ser de conhecimento que sou astrónomo amador, perguntaram-me:
“Se um extraterrestre interagisse contigo, o que lhe dirias, perguntavas ou pedirias?”
Lembro-me de ter feito um estranho silencio enquanto olhava o meu amigo ao fundo da mesa que reunia onze pessoas. Parecia que tinha saído do local.
Aproveitando a pausa enquanto pensava em algo “inteligente” para dizer, olhei em volta, observando as caras dos presentes. Não sei se esperavam uma resposta caótica, um rir desamparado ou algo estranho, mas acabei por dizer algo do género:
“Assumindo que existem outras criaturas inteligentes, que estas tem uma forma visível, que são pacíficos, que podem querer aprender algo connosco, que não nos conhecem ou ignoram de tão animalescos e primitivos somos ou pela falta de cooperação a que nos submetemos uns aos outros por questões fúteis como cor de pele, religião, idiomas, orientação sexual ou outros, pergunto se viriam ao solo apenas para “conversar” com alguém.
Mas aceitando que tudo isto é real e possível, pessoalmente não lhe pediria qualquer forma de riqueza. Certamente que lhes pediria a capacidade para viver mais anos sem problemas de maior e que nos afetam a longo prazo.
Não lhes pediria para eliminarem outros, aqueles de quem não gostamos, mas para os guiar no caminho certo. Não pediria paz no mundo, mas para que ensinassem a todos que somos irmãos, filhos da mesma raiz.
Pediria que se anunciassem, não como deuses, não como salvadores, mas como criaturas tecnologicamente avançadas capaz de curar as nossas maleitas. Que agissem como professores, criaturas que nos ensinassem a cooperar, a viver com honestidade e com orientação para o bem comum. Que nos mostrassem como se pode conviver com outros completamente diferentes de nós sem a necessidade de os criticar ou inferiorizar.
Talvez arranjar uma forma de controlar as nossas ambições e canaliza-las para o bem de todos, da humanidade. Criar uma metodologia de comunidade, apesar das diferenças de pensamento ou outros.
Que criassem uma lei única que nos mostrasse como prosperar, evoluir sem efeitos secundários ou casualidades desnecessárias. Que não nos escravizem por serem tecnologicamente superiores, que não nos eliminem por pensar que somos uma ameaça ou que não nos deixem sem nada que nos ajude a viver dia a dia.”
“ Quem não seguisse as suas “boas ações”?”
“Terei para dizer que os não seguidores, aqueles que se recusem a evoluir, são como ervas daninhas e deveriam ser eliminados para o bem da espécie. É essa coragem que nos falta.”
Os presentes entreolharam-se em silêncio. Demoraram a reagir, mas quando o fizeram surgiu uma gargalhada geral que levou os utentes das outras mesas a olhar, mostrando algum desconforto. O assunto não voltou a ser falado naquela noite, voltando a ser lembrado apenas uns bons anos depois.
Na vida atual, nada do que fazemos nos ensina a sobreviver e/ou a prosperar. Limita-mo-nos a usar os nossos utensílios eletrónicos para seguir outros que enriquecem à custa dos nossos “likes” ou comentários. Protestamos com o que fazem ou mostram ou damos-lhes a nossa bênção.
E nós? O que fazemos para o nosso bem? Até onde e/ou quando seguimos outros sem pensar que também nós temos um pensamento, um objetivo, uma luta?
Porque temos de seguir um guia que em nada nos beneficia ou faz por nós? Porque achamos que aquele que seguimos anteriormente não foi suficientemente bom e queremos seguir outro que pode ser ainda mais radical, se mostra pior ou é aconselhado para o ser? Quantas guerras ou ilusões teremos de sofrer até darmos conta de que estamos a ser enganados? Porque tivemos de fazer isto ao longo de milhares de anos da nossa existência, pensando que iríamos ficar melhor?
A humanidade, conforme a conhecemos, não caminha para um bom futuro.
Para os que andam distraídos, há muito que se criam nichos de indivíduos que de forma isolada são canalizados para um bem comum e que em nada beneficia a existência dos comuns dos mortais como nós.
Toda a informação que nos chega é canalizada para nos chocar e criar opções de escolha em favor de um objetivo nada comum e que acaba por não nos beneficiar.
Alguém alguma vez se interrogou porque é que os mais ricos tem bunkers em lugares longínquos e bem protegidos geologicamente? Ou porque querem sair do planeta e procurar outro lugar para habitar? Desde quando deixamos de sentir a chuva a cair, ver o pôr do sol ou um amanhecer?
Estes lideres querem estar permanentemente no pedestal, serem adorados como deuses, pessoas que são demasiado ambiciosas, arrogantes, pretensiosas ou egocêntricas e que procuram ser como faraós a todo o custo. Estes não querem ter a oportunidade de liderar apenas porque sabem o que fazem e porque querem criar uma diferença nos outros.
Estaremos a ser manietados como marionetas ou a usar a nossa vaidade pessoal uns contra os outros? Porque sentimos a necessidade da gloria, do reconhecimento não merecido? Porque queremos que o nosso nome seja registado na historia, num qualquer registo, numa recordação ou conversa de amigos ou familiares?
Estes lideres, fazem-nos crer que somos importantes, parte de algo grande ou superior para ganhar vantagem e depois de conseguido o lugar, abandonam-nos ou isolam-nos. Mas segui-mo-los sem questionar as suas verdadeiras intenções.
O melhor exemplo são as eleições. Nos países chamados de “democráticos”, elegemos pessoas que nos parecem leais, justas, competentes e passado algum tempo, chegam os podres dos mesmos. Alguns votantes metem as mãos à cabeça, mas é tarde.
Onde está a gente inteligente, capaz e organizada?
Este ano, temos muitas eleições a nível nacional e as opções são múltiplas, mas serão as mais acertadas? O que queremos? Aquilo que julgamos ser o melhor para nós ou para a sociedade? A radicalização nacional será uma boa opção, seguindo os princípios que temos assistido ao longo da historia, alguma dela recente, ou vai mais do mesmo com promessas daquilo que queremos escutar?
Assim vai o mundo, cheio de incertezas e convicções de que o que fazemos é melhor para nós e os que nos rodeiam. No final, devemos lembrar-mo-nos de que somos feitos de mesma forma e depois de mortos, transforma-mo-nos na mesma matéria seca, poeira universal.
No final, o que somos e o que contribuímos para o futuro dos nossos descendentes? Porque queremos ser algo mais? Porque havemos de o fazer? Será a humanidade sempre assim?
José Ligeiro