“Glória à Ucrânia”…

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Hoje vi três refugiadas ucranianas. Duas falavam inglês, a mais nova não. Nestas circunstâncias não falei da guerra, mas entabulei uma conversa informal. Todas saudáveis e aptas para trabalhar. Só a mais nova tinha a mãe em Portugal a trabalhar num restaurante. As outras tinham os seus pais na Ucrânia. Pais e maridos. Estavam felizes por estar entre nós. Bem acolhidas, mas uma delas denotava uma profunda tristeza. Queria regressar ao seu país. Eu disse-lhe:

- E vai. É uma questão de tempo.

Sorriu. Um sorriso encharcado de melancolia. Num exame médico normal, nada melhor do que perguntar pela família. Adoram este cuidado e atenção. A senhora disse que tinha uma filha.

- Que idade tem?

- Seis anos.

- Como se chama? - Orizia.

- O quê?

Repetiu o nome. Foi então que lhe disse que até hoje só conheci uma Orizia, uma tia que já faleceu. Claro que não sou peco em conversar sobre temas que me seduzem. O que me passou pela cabeça. Meu Deus! Explosões de vida e de intensas saudades. Não lhe disse, mas dei-lhe a entender a felicidade de haver neste mundo uma menina chamada Orizia. Senti que ficou contente.

Duas “Olha” e uma “Viktória”. Quanto às “Olhas”, perguntei como se pronunciava em ucraniano. Tive como resposta uma gargalhada.

- Olha!

- Mas olha em português significa ver, olhar.

- Sim. Eu sei.

Olha em ucraniano significa Olga em português. Por isso pedimos para nos chamarem Olga. Mas o que mais me marcou foi o facto de o meu telemóvel “acender” quando recebe uma mensagem. E o que é que aparece? A bandeira da Ucrânia desenhada pela minha filha. A senhora viu. Delicadamente perguntou-me se era a bandeira do seu país.

- É, Olga. Foi desenhada como homenagem ao seu povo.

Na minha casa tenho duas bandeiras, a minha, de Portugal, e a vossa, a da Ucrânia. Os seus olhos lacrimejaram e pediu-me para tirar uma fotografia. Depois disse:

- É para enviar ao meu marido.

Logo em seguida mostrou-me uma fotografia dela com os seus três filhos. Belos. Uma atitude que dispensa comentários.

Há consultas médicas que nunca se esquecem. Registo-as. Para quê? Para compreender um pouco melhor a vida.

“Glória à Ucrânia”.

Salvador Massano Cardoso