Margarida e a Gaivota - Conclusão

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3.

Assim que a chave rodou desamparada na fechadura, ouvi os guinchinhos do lado de dentro:

— Margarida, Margarida!

Esta nova mania da minha filha de me tratar pelo nome! Entrei e sentei-me no chão do corredor, encostada à parede.

— O que tens? Estás triste? O bisavô? - perguntou-me já baixinho.

Respondi-lhe por entre lágrimas que não consegui reter por mais tempo:

— O bisavô foi fazer uma longa viagem. Não o veremos durante muito tempo. Despedi-me dele há pouco.

— Não estejas triste. Ele deve ter-se encontrado com a tua amiga gaivota - consolou-me a minha filha.

Não me lembro de ser tão esperta quando tinha 6 anos. Recompus-me como pude e perguntei-lhe:

— Por que é que estavas a gritar por mim, Esmeralda?

Voltou a impacientar-se:

— É a Marta! Está muito agitada desde que saíste de manhã.

Levantei-me imediatamente e dirigi-me ao quarto. Ainda não me tinha sentado na cama já a minha velha amiga me perguntava:

— Quais foram as últimas palavras dele?

— "Diz-lhe que não se atreva a morrer antes de mim!" - respondi-lhe, de olhos no chão.

Abriu-me os braços para que deitasse a minha cabeça no seu colo. Só lhe adivinhei o sorriso enigmático com que pronunciou as suas últimas palavras:

— Ainda hoje resolvo com ele a nossa "aminosidade"...

 

 

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