O SONHO DA SOPA DE MORTO E DO PEIXE GIGANTE

Pode ser uma imagem de massa de água

E eis que regressam esses sonhos tão insondáveis quanto os mistérios do cosmos....

O de ontem foi dos mais insólitos e acontecia em duas partes, a primeira passada numa linda vivenda de grandes portas e janelas e um jardim de pedra branca e arbustos harmoniosos. Havia nesse jardim branco e verde um almoço de convívio em que o prato principal consistia numa sopa deliciosa com um inesperado condimento, um cadáver cujas partes se revelavam a cada colherada. Tal como a famosa "Sopa de Pedra", em que da mistura de múltiplos ingredientes consta uma pedra que lhe confere um sabor único, aqui um homem morto tomava o lugar da pedra. A minha cara distorceu-se num esgar de repulsa que inquietou a dona da casa e que disfarcei, de imediato, apercebendo-me, além disso, de que a mistura era, na verdade, deliciosa.

Estranhas conversas aconteciam nessa tarde alegre, entre os convidados, e uma paz elegante parecia impor-se sobre o repasto invulgar.

A segunda parte do sonho passava-se num cais, um porto de barcos, e um peixe gigantesco, de monstruosa aparência aproximava-se da margem com insistência. A boca escancarava-se pedindo alimento e o meu terror inicial foi aplacado pela presença de um homem que lhe era conhecido e que lhe introduzia peixe vivo por entre as mandíbulas medonhas. Senti pena dos peixes pequenos, mas igualmente alívio ao perceber que, após considerável esforço, conseguiam evadir-se daquela boca cheia de água do cais e mergulhar novamente nas água livres que os levaria de volta ao oceano. Pareceu-me que o homem notara a minha pena e passou a alimentar o monstro marinho com peixe morto retirado do braço de um segundo homem que os usava como cataplasmas para um ferimento atado por ligaduras.

Reparei que ao monstro aquático lhe era indiferente ser alimentado com peixe morto ou vivo e que mantinha a boca aberta, sem engolir, numa atitude dócil e pacífica.

A mensagem deste sonho é-me incompreensível, mais uma vez, mesmo buscando pelos labirintos claros da minha mente. Por que razão não tendo a mínima tendência antropofágica saboreei aquela sopa de condimento humano e conheci uma besta marinha dócil, ainda que de aparência terrível e assustadora, são perguntas cujas respostas talvez nunca venha a encontrar, mas longe de ser um pesadelo, facto não menos estranho, foi um sonho agradável e luminoso.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           MCM