PENSAR EM VOZ ALTA SOBRE MODELOS SOCIAIS E ECONÓMICOS
A declaração de independência dos Estados Unidos da América remonta a 4 de Julho de 1776, dando sequência à longa luta travada contra a Inglaterra, que a tinha colonizado. Os EUA são, desta maneira, um país cronologicamente jovem.
Resolvidos mais tarde os problemas esclavagistas que estiveram na base da sangrenta guerra da Secessão, que se travou entre 1861 e 1865, o país criou um modelo de desenvolvimento económico e de convívio social baseado no individualismo e no pragmatismo. Muitos desses critérios de organização social foram adoptados a partir da tábua de valores da Revolução Francesa de 1789. Esse quadro de desenvolvimento, baseado numa competição de marcado aberto e na exaltação da competitividade, revelou-se de tal modo promissor que reservou para este país uma hegemonia económica nítida, ainda que disputada, a partir do triunfo da revolução bolchevista de 1917, pela União das Repúblicas Socialista Soviéticas.
A URSS veio a preferir uma outra filosofia para se afirmar na cena internacional. Optou pela colectivização dos meios de produção e pela estatização como fórmula de incentivo social. Num momento histórico em que a China ainda não era um comparsa a considerar no palco internacional, quase todo o século XX nos oferece um panorama de rivalidade entre os EUA e a URSS. Os episódios da luta pelo primado no armamento nuclear e pela conquista do espaço espelham este quadro de emulações.
O calor do debate ideológico gerará a partir daqui dois tipos de ilusão colectiva: a dos que passaram a entender que o capitalismo individualista era o caminho mais certo para a realização dos seres humanos e a dos que preconizaram que a estatização económica e a devoção à cidadania comunista era a que melhor servia a Humanidade.
Esta casta de idealizações é geradora de um sistema de distorções na captação e interpretação da realidade social. A verdade é que nem o colectivismo e o estatismo oferecem a eterna felicidade às sociedades humanas, nem o capitalismo individualista a materializa. Talvez se diga a verdade toda, quando se afirma que não existem sistemas de pensamento e de acção que possam apresentar.se como os detentores da validade eterna.
Isto não significa que não possamos e devamos sopesar todos os modelos existentes ou a existir. No meu caso pessoal, confessando a minha matriz de vulgar cidadão europeu de tendência republicana, o modelo individualista e de mercado livre, naturalmente corrigido pela intervenção de um Estado tão providencial quanto possível, é o que mais merece a minha confiança. Mas nunca esperarei que essa minha opção me possa oferecer o quadro idílico em que todos os problemas se resolvam e se possa dizer que foi criado o Céu na terra ...
Amadeu Homem