Regando lentamente as flores do riso

vou já de neve em neve e lume em lume,
contornando a nordeste o paraíso
em terrenos de pedras ou de estrume,
com pequenas palavras na algibeira
das calças que mantenho ainda frias
da presença dos lares à minha beira.
E meto mãos e dentes nas vazias
flanelas limpas para o flanar antigo,
marcho directo e escasso, colocando
os pés azadamente.
Não persigo
ventos ou cores: sou pedro, zé, femando,
nomes comuns, impróprios, que desdigo
baixinho e surdo, curto, enquanto ando.
PEDRO TAMEN, in DANIEL NA COVA DOS LEÕES (Moraes Editores, 1970)
Coimbra Arco de Almedina - Foto João Azevedo