Naquele dia

 
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I
Anoitece no teu cabelo
elegante, cabecinha branca,
que outrora, negro era vê-lo,
comprido de longa trança!
II
Era um tempo de esperança,
no mundo que aí vinha,
lindos sonhos que se tinha;
pisaste as pétalas do lírio,
o significado de martírio,
por tudo que abandonaste,
para ficares junto de mim!
III
Como soubeste tu, assim,
tão pronta que era eu,
o vulto de um sonho teu,
que havia de tirar-te desse
lado e ao meu logo te desse
o que de mim havia para ti:
o meu destino para teu futuro
risonho, saudável, feliz e talhado
de na longa vida estar lado a lado.
IV
Nada acontece sem o destino
e o amor não o muda assim;
quando vieste junto de mim,
tiraste para dentro de ti,
algo que em antes nunca vi:
que, afinal, já nos amávamos
e tão distante que andávamos
V
O que houve, na aproximação,
foi o destino a dar-nos a mão;
e digam lá os sábios humanos
a razão de unir-nos, os arcanos!
Anoitece nos teus lindos cabelos
e nos meus, poucos, para vê-los!
Edgard Panão 
Arte: Vladmir Kush