O ANJO E A BESTA
(Homenagem a Pascal)
Entre o Anjo e a Besta oscilamos
e assim no concreto nos guiamos
e é sempre a breve brisa do acaso
que nos leva a pender para um dos lados.
No volver da vida vamos lançando os dados
e construímos as respostas em conformidade.
Temos a obsessão de nos justificarmos
para dar espessura ao que supomos ser verdade
embora tal verdade varie em função da vaidade.
Ainda bem que é assim :
o Anjo vai-nos justificando o fim
e a Besta fica a contemplar
este nosso permanente oscilar.
Depois, alguém quis decretar
que um Deus viria no fim para nos julgar.
Do resto nada podemos saber
mas é entre o Anjo e a Besta que vamos oscilando
sem saber bem onde, sem imaginar quando,
neste espantoso exercício do viver.
Amadeu Homem