UM AMOR DE PERDIÇÃO?
Era uma mulher sozinha
que tinha vizinho velho
desde há muito cobiçado
em bom tempo abençoado
sem pandemia nenhuma.
Tal mulher, menos idosa
e muito bem donairosa,
sentia a cama vazia
e lembrava-se à porfia
de vizinhança garbosa.
Quando a peste disparou
ela logo então lembrou
que se não experimentasse
do tal vizinho o enlace
bem podia acontecer
que ambos fossem morrer.
Escreveu-lhe carta ardente
dizendo que o amava
e muito necessitava
de o ter mui ternamente.
Como era de esperar
o tal vizinho anuiu
e muito de bom sentiu
tal senhora sem penar.
Está agora apaixonada
mas sem ter bem a certeza
se é só por sua beleza
tal paixão abençoada.
Terá de ir com vagar
que em coisas de coração
um amor de perdição
nem sempre deixa luar.
Amadeu Homem