As Urgências do Hospital dos Covões
Já passei pelas Urgências dos Hospital dos Covões e pelas Urgências do HUC.
Já estive internado nos serviços do Hospital dos Covões e do HUC.
Nesses dias de internamento, fragilizado, dependente e carente de apoios deu para observar o trabalho abnegado dos profissionais.
A preparação humana, a compreensão, a empatia foram ajudas nesses dias.
A minha passagem foi de muitos dias, com noites de insónia em luta com a lucidez em horas agitadas com recordações.
Numa entrada pelas Urgências do HUC, depois dos técnicos do INEM gentilmente se despedirem e de me desejarem melhoras, encontrei-me perdido numa sala enorme.
Porque me sentia mal e sem atendimento, deu-me para remoer aquela confusão.
Era uma agitação de empurrar macas para arranjar espaço para outro que chegou. Eram doentes a tossir aflitivamente. Outros em gemidos arrancados sem forças. Outros a vomitarem em impulsos de tremuras.
E naquela confusão, os profissionais de serviço não sabiam para onde se virarem, a quem acudir. O que me ficou gravado foi a impossibilidade daqueles profissionais acudirem a tantos que tinam chegado a precisarem dos seus cuidados.
As horas das urgências no HUC ficaram-me como reminiscências de um outro mundo, uma imagem de desumanidade, que mais parecia um serviço de um qualquer país do terceiro mundo.
E naquelas horas longas vieram-me à recordação as urgências do hospital dos Covões. E a minha indignação crescia. Por que motivos esvaziaram as urgências desse hospital?
A fusão dos Hospitais veio com o pretexto de mais eficiência. Talvez por menos custos administrativos. Por razões técnicas?!...
Da fusão resultou o desaparecimento de serviços que nos Covões funcionavam bem. E muito bem!
Das urgências nos Covões foram ficando uns restos, aos poucos sem o apoio das especialidades, levadas para o grande hospital, transformado num monstro de confusão, cercado numa malha urbana densamente ocupada.
A fusão levou o que melhor havia para o HUC, que ficou abarrotado, de serviços, de médicos e de doentes. Serviços em espaços reduzidos e sem condições, Nos Covões ficaram gabinetes, enfermarias, um moderno bloco, bons e funcionais espaços de Urgências, a funcionar para tarefas menores.
A fusão terá servido a presunção de administrações com vontade de mostrar serviço, indiferentes e sem convicção pelo SNS.
A fusão terá alimentado vaidades, talvez interesses, tudo escondido pelo badalar de que tudo foi feito para o doente, para o utente ou, em linguagem mais modernaça e a condizer, para o «cliente».
O que nos vai ficando de uma fusão feita aos poucos e sem clareza é o fim de Serviços e de um Hospital com história e prestígio, sem ter em conta as capacidades instaladas e os profissionais dedicados.
E nas minhas deambulações naquelas longas horas foi sonhar na devolução dos Serviços tirados aos Covões, com as valências e especialidades, respeitando a autonomia, a experiência, a dedicação que aí havia.
O Hospital dos Covões serviu para acolher os doentes Covid 19.
A minha admiração pelo trabalho do SNS, posto à prova e com exemplar entrega e dedicação nestes meses de Pandemia.
Manuel Miranda
miranda.manel@gmail.com