COIMBRA - UMA CORRIDA CONTRA O ESQUECIMENTO
Coimbra, ainda está em festa. É por essa razão que faz sentido abordar o assunto sobre a “consciência de Coimbra” nesta época de festividades.
Ter “consciência de Coimbra” é saber o que Coimbra contribuiu para Portugal e para o mundo. Mesmo que seja a “grosso modo”, é importante que todos tenhamos essa consciência.
Por isso O Ponney sugere que o primeiro passo deva começar sempre pela História, pois ainda nos falta comer do fruto da Árvore Eterna a fim de termos tempo para tudo apreendermos. O tempo de vida, que nos foi dado, é curto demais para conseguirmos compreender tudo. Por isso devemos ler as memórias da História e ouvirmos o que a alma nos diz.
Por isso viajamos e aterramos no ano de 1064 dado que Coimbra se torna cristã e assim continua até aos dias de hoje. Porém, Coimbra é cristã, mas começa a demonstrar alguma rebeldia nos primeiros anos. Pois é reconquistada por um moçárabe (hábitos e vestes islâmicos e de crença Cristã). D. Sisnando David nasceu judeu em Tentúgal, é raptado em rapaz pelos islâmicos. Com honras de bom cavaleiro passa para o lado cristão e torna-se cavaleiro de confiança de Fernando Magno. Conquistando o título e o poder de Conde de Coimbra.
Sisnando David inicia em Coimbra um procedimento pouco ou nada usual da época (e mesmo ainda neste nosso século XXI), tornando Coimbra uma cidade onde cristãos, judeus e muçulmanos convivem em paz.
Dando a Coimbra a primeira parte da Lição - conviver com quem pensa, sente e crê diferente.
A importância de Sisnando vai mais longe. Casa com a filha do conde de Portugal, Nuno Mendes, e alarga a sua parte da lição ao condado que um dia virá a ser Portugal. Esta é a segunda parte da lição de Coimbra.
Saltamos a cronologia e aterramos no ano 1111.
Encontramos a revolta dos moçárabes contra o pai de D. Afonso Henriques, conde D. Henrique. O conde aceita as reivindicações e passamos a ter o foral a Coimbra. Terceira parte da lição: Coimbra junta gente diferente, mas não é passiva.
Com um salto mais pequeno vamos para 1131 e encontramos D. Afonso Henriques a mandar construir o Mosteiro de Santa Cruz. Inicia-se o primeiro centro cultural mais original e importante da nacionalidade portuguesa. Também se fixa o centro administrativo (hoje equivale a capital) do que vai ser Portugal. Temos a quarta e a quinta parte da Lição: Coimbra nasce como "alma" de Portugal. De que foi grande voz o nosso Santo António que iniciou estudos no Mosteiro de Santa Cruz (estudos formais), mas que complementa a sua aprendizagem com os frades mendicantes.
O rigor histórico diz que o termo ‘capital de um país’ só aparece no século XVIII a XIX - no conceito que conhecemos hoje como local geográfico de centro administrativo de um país.
Mas no período de D. Afonso Henriques onde ia o rei ia a “capital”. O rei fundou em Coimbra um reino onde cada um seria respeitado na sua diferença religiosa e de pensamento e assentou cá arraiais. Esse é o Portugal original. Esse tipo de Portugal prolongou-se até D. Dinis. Que tinha a Rainha Isabel de Aragão como sua adversária política. D. Dinis decidiu começar a dar importância mais a sul. Tendo como ponto importante as grandes trocas comerciais marítimas e por isso a escolha de Lisboa. O que se por um lado nos levaram aos Descobrimentos, por outro perdeu-se o país que respeitava cada um. O capital falou mais alto.
A piada é tão grande que Coimbra enaltece D.Dinis, que sendo um excelente rei sempre entendeu que os Estudos Gerais (hoje ‘universidade’) deveria estar em Lisboa e nunca em Coimbra. Mas para não desagradar os mercadores vinha para Coimbra afastando a universidade de Lisboa. Quando os mercadores ficavam desatentos voltava a colocar a universidade em Lisboa. Só no século XVI é que o D. João III fixou a universidade em Coimbra - na rua da Sofia. Mas como o rei trouxe a inquisição para Portugal, Coimbra empurra-o. O que não podemos esquecer é que com D. João III foi protegido muitos intelectuais da fogueira como Gil Vicente que criticava o clero. Provavelmente o ato de trazer a inquisição para Portugal era uma maneira do Rei ter mão na “polícia política” da altura.
Por tudo isto, quem empurra a capital de Coimbra é também a própria arrogância dos frades crúzios, antecessores dos Professores Universitários, que lutavam pelo poder com os reis. Por aí é que D. Dinis opta por um ensino menos agarrado a pergaminhos e mais eficiente e muda a capital - muda a importância da cidade de Coimbra com valores de respeito individual para a Lisboa de interesses mercadores.
Sim. Há documentos de D. Dinis a defender a importância de Lisboa em desfavor de Coimbra. O casamento de D. Dinis com Dª. Isabel de Aragão. Filha de D. Pedro III, o Grande. Esta data traz-nos a Rainha que se vai tornar Santa. Coimbra passa a ser um vértice forte na cultura do Espírito Santo, onde os pobres são servidos primeiro pela mão da Rainha Santa Isabel padroeira da cidade. Esta traz-nos a sexta parte da Lição: as pessoas com mais dificuldades devem ser encaradas como voz de Deus e devem ser assim tratadas.
Sétima parte da Lição: Há uma alma que é superior à vontade dos seres humanos.
As 7 secções da Lição de Coimbra dão-nos a ‘Consciência de Coimbra’:
1_ Conviver com quem pensa, sente e crê diferente;
2_Foi em Coimbra que partiu a alma de Portugal;
3_ Coimbra junta gente diferente, mas não é passiva;
4_ Coimbra nasce como alma de Portugal.
5_Foi grande voz da alma iniciada em Coimbra
o nosso Santo António que complementa a sua aprendizagem
com os frades mendicantes;
6_Ensinou a Rainha Santa Isabel que as pessoas com mais dificuldades devem ser encaradas como voz de Deus e devem ser assim tratadas;
7_ Há, em Coimbra, uma alma que é superior à vontade dos seres humanos.
A sétima secção da Lição deve-nos deixar claro que é perda de tempo lutar contra a alma dos lugares. Tal como a água segue o seu curso também segue a alma de Coimbra que é a essência da alma portuguesa. Coimbra, pela sua consciência, é mesmo “uma Lição e só passa quem souber”.
O nosso maior esforço está em conhecermos bem
a alma do local para o podermos respeitar.
AF
11-07-2025