DOUTOR (lente) versus PROFESSOR na Universidade de Coimbra

O grau de doutor e não o título de professor era o que sobretudo o antigo
universitário prezava. Nunca, pela palavra nunca, eu me dirigi a um Mestre
meu chamando-lhe professor. E nunca, nesse tempo de que falo, os lentes
entre si por professores se tratavam. Lentes eram na linguagem comum; e como
doutores se assinavam e tratavam mutuamente. Professor dizia-se, então, elos
de instrução primária e, nas raras eventualidades, dos de esgrima, de dança,
de equitação; mesmo para os do Liceu, apenas na referência e não no
tratamento falado directo, essa qualidade era dita.
Claro que Já então, e de havia muito, se usava, em países estrangeiros, ter
por «professor» estima preferencial àquela que a «doutor» era ligada. Mr. le
professeur Docteur X e Herr Professor Doktor Y perdoariam facilmente que lhe
esquecessem a menção da doutoria, e não a da sua qualidade professoral. Mas
para Coimbra, embora não para Lisboa e Porto, isso eram costumes exóticos.
Nos epitáfios de tumulos e jazigos de lentes de Coimbra de outros tempos, é
sempre só a menção, por extenso ou em breve, de doutor o que lhes precede o
nome; e nunca a da sua qualidade professoral.
(…)
Provàvelmente, acontecerá que a nova forma, com o tempo, acabe por
prevalecer à antiga, para os mortos como para os vivos.
(…)
Prevendo esse desaparecimento, ficam estas palavras, de uma voz também quase
extinta, a relembrar o que já não é…»
Fernando de Almeida Ribeiro; 1951:24/32
FOTO: Bernardino Machado, lente catedrático da Faculdade de Filosofia da
Universidade de Coimbra, em 22 de Abril de 1879, com 28 anos.
universitário prezava. Nunca, pela palavra nunca, eu me dirigi a um Mestre
meu chamando-lhe professor. E nunca, nesse tempo de que falo, os lentes
entre si por professores se tratavam. Lentes eram na linguagem comum; e como
doutores se assinavam e tratavam mutuamente. Professor dizia-se, então, elos
de instrução primária e, nas raras eventualidades, dos de esgrima, de dança,
de equitação; mesmo para os do Liceu, apenas na referência e não no
tratamento falado directo, essa qualidade era dita.
Claro que Já então, e de havia muito, se usava, em países estrangeiros, ter
por «professor» estima preferencial àquela que a «doutor» era ligada. Mr. le
professeur Docteur X e Herr Professor Doktor Y perdoariam facilmente que lhe
esquecessem a menção da doutoria, e não a da sua qualidade professoral. Mas
para Coimbra, embora não para Lisboa e Porto, isso eram costumes exóticos.
Nos epitáfios de tumulos e jazigos de lentes de Coimbra de outros tempos, é
sempre só a menção, por extenso ou em breve, de doutor o que lhes precede o
nome; e nunca a da sua qualidade professoral.
(…)
Provàvelmente, acontecerá que a nova forma, com o tempo, acabe por
prevalecer à antiga, para os mortos como para os vivos.
(…)
Prevendo esse desaparecimento, ficam estas palavras, de uma voz também quase
extinta, a relembrar o que já não é…»
Fernando de Almeida Ribeiro; 1951:24/32
FOTO: Bernardino Machado, lente catedrático da Faculdade de Filosofia da
Universidade de Coimbra, em 22 de Abril de 1879, com 28 anos.
João Baeta