Fobia social: "Perdi oportunidades com medo de me expor"

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 A fobia social é o medo exagerado de tudo o que tenha a ver com contactos sociais ou exposição social

 

A Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra (UPPC) tem a decorrer a campanha "Supera a fobia social", uma iniciativa que pretende sensibilizar os estudantes do ensino secundário e superior para esta condição mental

Sempre foi uma excelente aluna, mas, nas vésperas dos exames, A., de 24 anos, passava por estados de "grande angústia e sofrimento". Quando tinha de ir a uma prova oral, a ansiedade era ainda maior. "Tinha medo da crítica, daquilo que os outros iam pensar", conta ao DN a estudante do 4º ano de Medicina. No momento da prova, ficava corada, sentia palpitações, a voz trémula. "Isso interferia com o meu desempenho", assume. A situação agudizou-se. "Perdi oportunidades com medo de me expor, de ser avaliada de forma negativa".

 

Há um ano que A. é acompanhada na Unidade Psiquiátrica Privada de Coimbra (UPPC), onde recebe apoio psicológico e psiquiátrico. "E faço medicação. Agora consigo lidar de forma mais saudável com as situações de avaliação", sublinha.

 

Durante o mês de junho, a UPPC tem a decorrer a campanha "Supera a fobia social", uma iniciativa que pretende sensibilizar os estudantes do ensino secundário e superior para esta condição mental, que, segundo o diretor clínico da unidade, afeta 7,1% da população mundial.

 

"A fobia social é o medo exagerado de tudo o que tenha a ver com contactos sociais ou exposição social. Os sintomas são mais exagerados quando a pessoa se submete a uma experiência em que está a ser avaliada", explica ao DN Joaquim Cerejeira.

 

Foi a pensar nos estudantes que passam por este tipo de experiências que a unidade decidiu criar a campanha, que será divulgada nas redes sociais e nas universidades.

 

"É normal as provas geraram um certo grau de ansiedade nas pessoas, mas, com a fobia social, esses níveis são extremos. E há uma percentagem importante de alunos que sofre desses sintomas", revela o psiquiatra, destacando que há quem peça ajuda, mas muitos "não dizem nada a ninguém" e camuflam o problema com "ansiolíticos ou bebidas alcoólicas". Estratégias que só vão agravar a patologia.

 

Os sintomas tendem a ser mais intensos quando existem apresentações ou provas orais, assim como nos trabalhos de grupo. "Há um medo extremo de falhar, de se sentir ridículo. Do ponto de vista físico, o coração bate mais depressa, surgem palpitações, respiração ofegante, tremores, nó na garganta, transpiração". Em alguns casos, prossegue, os estudantes adiam ou faltam às provas para não enfrentarem o medo.

 

"Há pessoas que têm um potencial intelectual de bom desempenho e são afastadas de lugares, ficam para trás, porque não conseguem evidenciar essas capacidades oralmente. Perdem oportunidades", adianta Joaquim Cerejeira.

 

Segundo o psiquiatra, o tratamento envolve, geralmente, uma abordagem psicoterapêutica, psiquiátrica e farmacológica. "A pessoa é treinada para perceber se as suas ideias são realistas ou irrealistas. Muitas vezes, percebe que os medos são irrealistas. Por outro lado, os fármacos ajudam a baixar os níveis de ansiedade", esclarece.

 

Um bom método, ainda que pouco usado, é o da auto-hopnose. Experimente.

Foto: DN