JOÃO FONTES DA COSTA, O CANDIDATO “ECOCÊNTRICO”

5 ENTREVISTA A JFC1

 

João Fontes da Costa, é o primeiro candidato nas listas do Distrito de Coimbra às Legislativas de 2025 pelo partido Pessoas, Animais e Natureza (PAN). Nascido em Coimbra e, apesar de ter sido migrante dentro de Portugal, regressou à Lusa Atenas para estudar. Com 51 anos, é natural de Coimbra, licenciado em Sociologia, Mestre em Gestão e Doutorado em Gestão. Esteve quase 15 anos ligado ao mundo empresarial como Diretor de Recursos Humanos em várias empresas nacionais e multinacionais. Atualmente leciona na Coimbra Business School, Instituto Politécnico de Coimbra, nas áreas da Gestão de Pessoas.

É investigador no Centre for Business and Economic Research (CeBER), da Universidade de Coimbra, tendo várias publicações em que se incluem artigos científicos, livros e capítulos de livros técnicos. Possui uma ampla experiência em projetos de consultoria especializada.

Foi cofundador da Associação Mural Sonoro; desde a juventude cocriou associações de consumidores estudantes e de inquilinos estudantes, promovendo a defesa de valores basilares da sua formação e visão do mundo. Atualmente apoia Associações de Defesa Animal e Proteção e Conservação da Natureza.

É membro da Comissão Política Nacional do Partido Pessoas-Animais-Natureza, bem como da sua Comissão Política Distrital de Coimbra e continua a considerar-se um conimbricense de “gema”.

O Ponney (OP)- Agradecemos, desde já, o tempo que nos concedeu para nos conceder esta entrevista ao nosso jornal O Ponney. Sendo de Coimbra, considera-se mais ‘conimbricense’ ou ‘coimbrinha’?

João Fontes da Costa (JFC) - Considero-me um conimbricense com orgulho. Cresci entre a Baixa, porque a minha avó materna morava na Praça 8 de maio e os passarinhos da mata do Choupal, passando pelas noites da Queima das Fitas. Tenho respeito pelas tradições, mas prefiro modernizar mais do que empoeirar. Se me derem a escolher entre um café numa esplanada a dizer mal do mundo ou plantar árvores no Vale das Flores, pego no meu termo e na enxada. No fundo, quero uma cidade com história e com futuro — para humanos e não humanos;

OP - O João Fontes da Costa lembra muitas vezes que o PAN teve 41 propostas aprovadas na Assembleia da República, apenas com a deputada Inês Sousa Real. Num contexto favorável do PS no governo. Considera, também, que com mais deputados pelo PAN mais propostas apresentavam. O que não significa que o PAN tivesse mais propostas aprovadas.
Porém, se fosse eleito deputado pelo PAN, no círculo de Coimbra, promete responder às questões levantadas pelos eleitores do Distrito de Coimbra, que acedam ao seu email no Parlamento?

JFC - Sim, na legislatura passada foi isso. Na que agora termina voltámos a ser o partido da oposição que mais medidas aprovou, e com muito orgulho recordo que são a prova de que uma só deputada, a Inês Sousa Real, com uma equipa pequena mas dedicada, fez mais do que muitos grupos parlamentares inteiros. Agora, com mais deputados, claro que conseguimos apresentar mais propostas, há tanto por fazer pelo ambiente, pelos animais, pelas pessoas... E se vão todas ser aprovadas? Isso depende da abertura dos outros partidos a ouvirem mais do que os seus próprios umbigos. Mas nós conseguiremos fazê-lo, até porque quanto mais votos tivermos na assembleia mais poder negocial teremos, obviamente. Quanto à ligação com os eleitores de Coimbra, claro que respondo a quem me escrever. E não é uma promessa vazia de campanha. O Parlamento não é uma torre de marfim, é uma caixa de reverberação das necessidades. Quem me escrever com seriedade, tem resposta com seriedade. E se for com humor, ainda melhor, desde que não seja para me mandar mais memes de gatos a votar PAN. Já tenho o álbum completo.

OP - Os incêndios de 2017, que afetaram muito o Distrito de Coimbra, onde as áreas ardidas em muitos Concelhos, como o caso de Pampilhosa da Serra, onde foi perdido 80% da sua floresta (com todas as consequências negativas para a Natureza) e 500 habitações, não terá sido, também, uma consequência pelo abandono a que está votado o nosso Distrito? Por oposição ao absoluto centralismo das populações nas duas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto?

JFC - Infelizmente, sim. Os incêndios de 2017 não foram só uma tragédia ambiental e humana — foram também o espelho de décadas de abandono do interior e da destruição de um modelo de gestão equilibrada do território. A Pampilhosa da Serra e Oliveira do Hospital como outros concelhos do distrito, pagaram um preço altíssimo pela falta de investimento, de planeamento florestal e pela centralização absurda que trata o país como se só existisse entre o Colombo e o Norteshopping. Temos um território a duas velocidades: de um lado, as áreas metropolitanas com tudo concentrado; do outro, comunidades resilientes mas esquecidas, onde faltam serviços, apoios e voz política. O PAN defende um modelo de desenvolvimento justo, com investimento real no interior, floresta autóctone, agricultura sustentável e empregos que não dependam de um comboio para Lisboa, que mesmo assim tem de existir. Porque o país só está verdadeiramente seguro — ambiental e socialmente — quando todas as regiões são tratadas com dignidade e visão de futuro. E não chega ir lá depois do fogo. O interior precisa de políticas antes das cinzas.

OP - Como vê o macrocefalismo demográfico em Portugal, centrado em Lisboa e no Porto e que medidas considera para combater este problema que tem consequências graves (ou muito graves) em várias áreas da política nacional?

JFC - O macrocefalismo é um palavrão bonito para descrever um país de cabeça inchada e corpo mirrado. Lisboa e Porto chamam a si os recursos e tornam-se mais atrativos e depois ainda se queixam de trânsito. O resultado? Despovoamento e desertificação do interior, florestas ao abandono, falha nos serviços de saúde, escolas sem alunos e políticas que são feitas para as capitais... por gente que nunca saiu da 2ª circular ou que quando lá chegou se esqueceu dos caminhos de volta a casa. O PAN propõe uma descentralização real, mas a sério, não só mudar serviços para outras cidades com um corte de fita. Queremos incentivos fiscais para quem vive e investe no interior, uma rede de transportes públicos eficazes e acessíveis (que não passem uma vez por dia), apoio à economia local e digitalização que leve o país ao interior, em vez de levar o interior todo para Lisboa. Portugal não pode ser uma cabeça gigante com membros raquíticos. Queremos um país com equilíbrio, músculo e bom senso. E o sistema circulatório regularizado, com comboios que liguem todas as capitais de distrito.

OP - O João Fontes da Costa, como candidato às legislativas 2025, defende um investimento maior na saúde, sobretudo nos Concelhos mais afastados do Concelho de Coimbra e mais medidas para o transporte público com menor pegada ambiental. Entende que defender uma área metropolitana para Coimbra poderia ser uma solução que agruparia soluções para estas questões?

JFC - Absolutamente. Quando se vive na Pampilhosa, em Góis ou em Penela, a saúde pública não pode ser uma miragem com 90 minutos de estrada pelo meio. E quando o autocarro só passa uma vez por dia — e muitas vezes não à hora certa — a mobilidade transforma-se numa lotaria. Por isso, sim: uma Área Metropolitana de Coimbra, bem desenhada, com competências reais e financiamento adequado, pode ser uma resposta séria. Não para criar mais uma estrutura burocrática, mas para agrupar soluções em áreas críticas como transportes públicos verdes, acesso à saúde, à cultura, à educação e até à habitação. Coimbra já funciona, de facto, como um centro regional. Falta é organizarmo-nos como tal. E o PAN está disponível para ser a voz incómoda, mas construtiva, que insiste nestes temas quando o assunto da moda são os megaprojetos em Lisboa, como pontes e aeroportos, mesmo quando nós nem paragens de autocarro temos, ou quando nos negaram comboios para a Lousã durante décadas. Porque os nossos problemas são reais e não se resolvem com promessas à beira das eleições, nem com comboios fantasma.

OP - Apelo à sua imaginação para perante uma situação ficcional onde tinha que escolher entre defender a população do Distrito que o elegeu ou contrariar a disciplina partidária do PAN - por qual optaria?

JFC - A disciplina partidária é importante, mas não é um dogma. E o PAN, felizmente, é um partido onde o debate e a consciência ecológica e ética andam de mãos dadas com a escuta ativa das populações. Agora, se me pusessem num cenário de rutura, em que tivesse de escolher entre a população do distrito que me elegeu ou obedecer cegamente a uma orientação partidária, eu fazia o que qualquer cabeça de lista com cabeça deve fazer: escolhia as pessoas. Porque um mandato político não é um contrato de silêncio, é um compromisso com quem confiou o voto. E se isso me trouxesse problemas internos, paciência, sempre preferi ter problemas de coluna vertebral a ter falta dela. Em política, como na vida, é melhor perder uma votação do que perder a cara e o compromisso em quem confiou em mim.

OP - Acha possível um entendimento parlamentar pontual com a AD, agora que não tem o Partido Popular Monárquico?
Dado que considerou “um partido que está muito identificado com causas que nos estão completamente antípodas, como os direitos dos animais, os direitos humanos, o favorecimento das mulheres e o feminismo.”

JFC - Vamos lá ver: entendimentos pontuais no Parlamento, e sublinho essa característica, são como uma troca de conveniência, ninguém as idealiza, mas às vezes acontecem para resolver problemas práticos. Agora, com a saída do PPM, a AD pode ter deixado para trás uma parte do peso conservador, mas não traz diferenças fundamentais. E isso não combina bem com causas que o PAN defende todos os dias: os direitos dos animais, o feminismo, a justiça social e a defesa do planeta. Se a AD aparecer com propostas concretas que vão ao encontro dos nossos valores e não apenas ao encontro da agenda das grandes corporações ou dos lóbis do costume, claro que podemos dialogar para coisas muito concretas. O orçamento de estado deste ano tinha zero euros para a causa animal. Nós conseguimos fechá-lo com 14,5 milhões de euros, a maior verba de sempre. Mas vamos continuar a ser incómodos, a questionar e a exigir coerência. Portanto, sim, podemos conversar. Mas não contem connosco para posar sorridentes em fotografias de família que depois envergonham os álbuns da democracia. Para trabalhar em prol das Pessoas, dos Animais e da Natureza? Lá estaremos.


OP - Pode revelar, como deputado eleito do PAN por Coimbra, poderia apresentar uma proposta para que os Municípios não tivessem carta branca na decisão de corte de grandes árvores como aconteceu em Coimbra, por causa do MetroBus ou com o simples argumento que estavam doentes?

JFC- Sim, sem qualquer hesitação. O que aconteceu em Coimbra com o abate de dezenas de árvores, muitas delas centenárias, é um exemplo claro do que não pode voltar a repetir-se. Árvores não são obstáculos urbanísticos, são um património vivo, filtros de ar, refúgio de biodiversidade e memória coletiva. O PAN apresentaria uma proposta para limitar a “carta branca” dos municípios nestas decisões. Isso poderia passar pela criação de estruturas como noutros locais, uma Entidade Independente de Avaliação do Arvoredo Urbano, que analisasse cada caso de abate de grandes exemplares com critérios científicos, ambientais e de interesse público, antes de qualquer corte. Além disso, defenderíamos a obrigatoriedade de audições públicas vinculativas sempre que se trate de intervenções com impacto significativo no património natural de uma cidade. Não podemos continuar a permitir que se cortem árvores com o mesmo argumento vago e recorrente de que “estavam doentes”. Se assim fosse, muitos de nós já tínhamos sido decepados na última pandemia.

OP - Em nome das “energias verdes” começam a cometer-se crimes ambientais. O caso também foi levantado pelo O Ponney com o artigo « O SILÊNCIO DOS ECOSSISTEMAS» onde a associação Milvoz quebrou o silêncio contra o que chamou “um crime ambiental” quando se colocou a possibilidade de uma central fotovoltaica na Ega ao preço de se derrubar um ecossistema numa área de 12 hectares. Porém o que diz o “Simplex ambiente”, no ponto 3, alínea “a” é que os “centros eletroprodutores” que utilizem como fonte renovável solar devem cumprir, entre outras itens (para que não haja obrigação de fiscalização), que a área instalada seja inferior a 15 hectares para as “zonas sensíveis”. Como candidato o que pensa fazer em relação a situações como esta?

JFC - É fascinante como, em nome das energias verdes conseguimos transformar ecossistemas em meros obstáculos à grandeza do poder solar. O caso da central fotovoltaica na Ega é a mais recente obra-prima de sustentabilidade. Derrubamos um ecossistema de 12 hectares, 1070 sobreiros, mais de 40 000 carvalhos, mas é tudo para o bem do planeta. Uma farsa! Afinal, no mundo do Simplex Ambiental, 15 hectares de árvores e biodiversidade podem ser facilmente substituídos por painéis solares. É preciso definir zonas específicas para o desenvolvimento de energias renováveis que considerem a importância ecológica de determinadas áreas, mesmo que não tenham espécies protegidas. Ou seja, seria necessária uma zonificação verde, onde a instalação de centrais fotovoltaicas seria orientada para terrenos já degradados ou áreas agrícolas não sensíveis, sem comprometer ecossistemas frágeis ou áreas protegidas. Mas sabemos que esta situação ou a da famosa Lei dos Solos o que propõe é destruir a Natureza com desculpas assentes em problemas reais, mas com soluções irrealistas e ineficazes.

OP - Desejamos boa sorte e agradecemos a sua disponibilidade.

JFC- Eu é que agradeço.

JAG
PUB 02-05-2025