MISTÉRIOS DE COIMBRA

 

COMO OS FREIRES CRÚZIOS IAM DO SEU MOSTEIRO ATÉ AO COLÉGIO DOS SEUS ESTUDANTES, ATRAVESSANDO A RUA DAS FIGUEIRINHAS, SEM QUEBRAR O VOTO DE CLAUSURA

Quando os cónegos regrantes de Santo Agostinho decidiram instituir um Colégio universitário para os estudantes da sua Ordem, distinto e separado do seu Mosteiro de Santa Cruz, escolheram para o edificar "um pedaço de chão à Porta Nova", adquirido "por escambo feito com a Câmara Municipal, (...) ao fundo da Couraça dos Apóstolos, (...) em sítio com soberbas vistas sobre o arrabalde e os campos do Mondego". Em poucos anos, de 1593 a 1604, surgiu aí "um dos mais interessantes e grandiosos edifícios colegiais de Coimbra": o Colégio de Santo Agostinho ou da Sapiência, vulgarmente conhecido por Colégio Novo (António de Vasconcelos, "Escritos Vários", vol. I, p. 259).

Havia, porém, um problema: como iam os freires crúzios, vinculados ao voto de clausura, dar aulas aos seus estudantes, se entre o dormitório de uns e o colégio dos outros havia um caminho, junto a "três pequenas colinas com árvores de fruto" (provavelmente as pequenas figueiras que haveriam de dar o nome à Rua das Figueirinhas)?

A resposta é-nos dada por Lorenzo Magalotti, que, em Fevereiro de 1669, enquanto Pier Maria Baldi desenhava a vista de Coimbra, escrevia o relato da visita de Cosme de Médicis à cidade: os freires iam por um caminho subterrâneo ... e assim respeitavam a regra da clausura.

Espertos estes crúzios! Com "tali sottigliezze" (na expressão de Magalotti) conseguiam, sem sair da clausura do Mosteiro, desfrutar, do Colégio Novo, as "soberbas vistas sobre o arrabalde e campos do Mondego".

 

Misterios-de-Coimbra.jpgMário Torres