Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Coimbra
Em 1283, D. Mor Dias fundou uma comunidade religiosa no local onde está o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Esta comunidade foi dedicada a Santa Clara, um sinal da popularidade das ordens mendicantes (de inspiração franciscana) que na época chegavam a Portugal. Pouco se sabe da primitiva edificação. Presume-se que fosse modesta.
Sabe-se sim que a fundadora se envolveu num litígio legal prolongado com os monges crúzios (do Mosteiro de Santa Cruz), o que conduziu à extinção da comunidade em 1311. À data da edificação deste mosteiro ter-se-á construído outro monumento de enorme envergadura e importância para a cidade: a ponte sobre o rio Mondego. A construção desta ponte trouxe a edificação do Bairro de Santa Clara.
Em 1314 D. Isabel de Aragão, a Rainha Santa, casada com D. Dinis, o Lavrador solicitou ao Papa autorização para erguer um Mosteiro nesse local, e em 1316 decorriam já as obras. A Rainha tinha grande apreço pelo Mosteiro, tendo decidido ser aí sepultada. O Mosteiro surge associado a vários episódios da vida da Rainha Santa, sendo o mais famoso, o “Milagre das Rosas”, que teria ocorrido nas imediações do Mosteiro.
O arquitecto-mor do Mosteiro foi Domingos Domingues, que trabalhara anteriormente no mosteiro cisterciense de Alcobaça. A arquitectura combina o estilo românico e o gótico, com predominância deste último estilo, que se generalizou em Portugal durante o séc. XIV. A planta compreende três naves de altura semelhante, sem transepto. As naves dividem-se em sete tramas. Ao contrário da maioria das igrejas mendicantes da época, a cobertura é integralmente de pedra. As abóbadas em berço quebrado e a técnica de separação das naves são sinais de influência românica.
A iluminação das naves é feita por duas rosáceas nos extremos da nave central e por janelas duplas nas paredes laterais. A igreja foi sagrada em 1330. Posteriormente foi construído um claustro, uma sala capitular e outras dependências, reveladas pelos trabalhos de recuperação. Logo em 1331 a cheia do Mondego invadiu o recinto, iniciando o afundamento do Mosteiro. Para combater o afundamento foi edificado um novo plano de chão a meia altura da igreja, o que ilustra a elevação original das naves, tão característica das igrejas góticas. Mau grado, todos os esforços de drenagem e conservação, a Igreja e o Mosteiro foram abandonados em 1677, transferindo-se a comunidade de monjas para Santa-Clara-a-Nova, localizado a meio da colina sobranceira.
Também o túmulo da Rainha Santa foi transferido embora o altar onde então se encontrava estivesse acima do nível da água e assim permanecia em 1993.
José Feiteira
Foto © zefeiteira