HABITAÇÃO SOCIAL - É OU NÃO IMPORTANTE?
A questão que uma parte das pessoas tem sobre a habitação social é “por que razão uns vivem dos rendimentos dos outros?”
Esta questão é colocada abertamente em tom de agressão por algumas pessoas, que sofrem muito para pagar a sua casa ao banco e entendem descarregar a frustração sobre o vizinho que vive ainda com muito mais dificuldades. Ou nem é colocada publicamente, mas é interiorizada para formar opinião. É sempre mais fácil atacar quem está pior do que quem está melhor. De qualquer forma fica sempre o ataque agressivo sem qualquer tipo de reflexão - que é muito diferente da critica racional.
A realidade é que qualquer um de nós, independentemente das habilitações, saúde, dinheiro que possua num dado espaço de tempo, ou estabilidade familiar está sujeito a ter um desastre provocado pela roda da vida e, de um momento para o outro, passa a estar numa situação inimaginável em que se vê obrigado a pedir ajuda a todos até às instituições para conseguir sobreviver.
Por outro lado, o poder político aproveita o enfraquecimento social das pessoas para usarem em campanha de “caça ao voto”. Servindo-se da chantagem psicológica, muitos políticos de diferentes quadrantes usam os necessitados para a sua campanha, mas quando possuem o poder esquecem facilmente as promessas.
Uns por interesse de concentrar todo o poder no Estado, defendendo uma taxação cada vez maior para terminar com a iniciativa privada e dar monopólio ao Estado. Outros desejam que a sociedade se torne numa “selva” onde o forte mata o fraco - esquecendo-se que nem todos partem do mesmo ponto de partida social e económico e, pior, esquecem que mais tarde ou mais cedo todo o forte tem fraquezas que o tempo vai aumentando.
Ou, ainda pior, quando quem entra em campanha política usa o poder da probabilidade de vitória para negociar a facilidade para dar como esmola a casa camarária em troca pedir ao que necessita para vir para a comunicação social dizer mal do opositor político! Sob a forma de chantagem descarada! O perfil das famílias escolhidas para a campanha, ou chantagem (conforme a perspetiva), devem ser pessoas sem posses, com dependentes sofrendo graves doenças e que consigam dar testemunho na comunicação social tocando os assuntos que quem faz campanha quer.
Usa-se a fragilidade para se fazer campanha, mas sempre contra algo. Porém todas as pessoas que necessitam de ajuda, muitas vezes por revezes da vida, acabam numa interminável lista de espera. Onde parece claro que a chantagem pode ser alternativa.
É exatamente por esta desconfiança popular, escondida na emoção sem qualquer racionalidade, é que cada pessoa, que necessita desesperadamente de ajuda, tem que passar por um processo muito longo em termos de tempo e burocracia até poder ter uma casa social apoiada por todos e entregue pelo poder eleito do Município local - como se de esmola se tratasse.
São esses diversos bairros camarários que têm muitas histórias para contar, onde muitos momentos de confiança e esperanças desabaram por um acontecimento que transformou o dia-a-dia normal num completo pesadelo de desespero pela luta de sobrevivência a cada minuto que passa.
Para entendermos estas e outras histórias é que O Ponney visitou o Bairro Camarário de Celas a convite de alguns moradores, não com intenção de repetir o que já disseram inúmeras vezes a jornais, a partidos que visitam o Bairro e até a Presidentes de Câmara e a Vereadores que abanam a cabeça concordando com as situações indignas em que vivem as pessoas, mas que esquecem assim que as luzes, para se fazerem as fotografias, se apagam, regressando a escuridão para o que está por trás deste problema.
Ora é aqui que O Ponney quer sublinhar como elemento importante para que não nos possamos esquecer e que se deseja solidariedade por parte de todos e de cada um de nós. Mesmo quando as luzes se apagam e se entra na escuridão que encobre os problemas.
Antes de tudo é importante referir que este referido Bairro de Celas é um ícone em Coimbra e tem atrás de si uma História que terminou na construção em 1947 com objetivo de receber os moradores da Alta de Coimbra, que foram expropriados pelo Governo de Salazar pelas grandes obras da Alta. Esta gente expropriada das suas casas da Alta e que foram obrigadas a mudar para este Bairro de Celas são conhecidos como ‘Salatinas’ e usaram o termo com o orgulho de resistentes que não deixam esquecer as suas origens. Alguns destes moradores ainda são descendentes dos primeiros habitantes e continuam no Bairro. Conforme podem vão tentando ajudar outros moradores que vieram de fora, mas que são “irmãos de injustiças”. É importante que se lembre desta ajuda dos mais antigos moradores em relação aos que vêm mais recentemente. Nunca é demais a solidariedade de todos para resolver os muitos e graves erros para com pessoas que exigem justiça e dignidade.
O principal erro, que ainda não foi emendado, é que as casas mandadas construir pela Câmara, para rendas adequadas às necessidades das pessoas, ainda não cumprem com as normas exigidas a um qualquer privado (pessoa individual ou coletiva) que construa ou reabilite uma casa ou prédio.
Quartos sem janelas (falamos de ‘janelas’ não de buracos como respiradores ou de qualquer outro artificio) e de reduzidas dimensões; telhados sem qualquer isolamento; “terraços” sem estrutura de base que fazem afundamentos de terra e que, pela falta de estrutura de apoio, acabam por fazer ceder muros; fogões fixos com fornos sem as devidas medidas de segurança; apesar da construção nova as paredes racham e estão cheias de humidade; degraus internos que mais parecem armadilhas do que escada; casas onde o ponto de entrega de luz e gás não foi certificado pela Infraestruturas de Portugal, mas ainda assim as casa são entregues a pagar renda; canos abertos; restos de estaleiro nas casas entregues a pessoas que estão à espera há anos; bancadas de cozinha com as pedras mármores emendadas, mas sem vedantes necessários - o que cria infiltrações; rodapés a desfazerem-se aos pedaços e um sem número de situações repetidamente reportadas ao anterior executivo e que se prolongam ao atual executivo municipal onde a situação é empurrada entre a Câmara e a empresa construtora - sem que haja solução à vista. Reportagens em jornais nacionais, visitas de comissões de diversos partidos políticos, visitas de Vereadores, engenheiros e arquitetos... mas nada se resolve, apesar de, depois de muita insistência, a CMC vir fazer um ou outro remendo para tentar calar quem não tem medo de denunciar os erros. A realidade é que os maiores problemas ficam esquecidos nas gavetas ou no “empurra-empurra” da responsabilidade.
Não se pense que estas pessoas não pagam renda. Pois pagam. O preço da renda oscila entre o máximo de 599 euros ao mínimo de 10 euros para pessoas com maiores dificuldades, incapacidades e que cumprem com critérios muito apertados.
Casas que deveriam ter condições para receber pessoas com deficiências motoras ou invisuais - são entregues com degraus e detritos de obra - numa clara e constante pista de obstáculos de entrada - ora isto seria multado pela fiscalização camarária, não fosse a construção da responsabilidade da própria Câmara Municipal de Coimbra.
«A CMC não deveria ser a primeira a dar o exemplo?» - São os moradores que fazem a pergunta e que não têm resposta. Acrescenta que nem todas as casas têm certificado de habitabilidade.
O Ponney soube que há famílias de 6 elementos encafuados em casas com três quartos de tamanho reduzido alguns sem janela, uma casa de banho, sala pequena e cozinha a que chamam T3. Ou uma família com os pais, os mais velhos, a filha que é mãe de três crianças, 2 meninos com deficiência, um deles em cadeira/cama de rodas e uma menina de 4 anos e sem mais do que um T3. Os casos de sobre-lotação são histórias repetidas nos bairros municipais.
O esforço de cada família com problemas de saúde e a quem a sorte abandonou pagam renda adequada às suas posses e que são obrigadas a esperar anos pela atribuição de casa.
Mas estas pessoas, que ocupam o Bairro camarário de Celas, têm família e nomes como a Dona Maria do Céu; a Ana; o senhor Manuel Carvalho; a Carla; o Luís Pedrosa; a Daniela, o Duarte e os seus 3 filhotes que nos receberam muito amavelmente em sua casa e tantas outras pessoas com rosto e com testemunhos de como a vida deu uma volta, mas mantêm o orgulho e lutam pela dignidade de serem tratados como pessoas. Apenas reclamam justiça e dignidade!
Estas pessoas têm que ser tratadas com dignidade e com justiça e não podem continuar a ser chantageadas a defenderem o partido A ou B com a promessa de resolução de problema que é adiado. Não podemos concordar com o argumento populista que diz “para quem é bacalhau basta!» e coisas como «é dado e arregaçado» como alguns responsáveis acabam por dizer, até publicamente, assim que têm o poder, usando como desculpa para não resolverem as questões que antes lhes servia para a campanha eleitoral.
Também é verdade que o caso especifico do Bairro de Celas está numa zona apetecível para a especulação imobiliária e interessa a algumas pessoas que os moradores, que necessitam de apoio, sejam “convidadas” a poderem passar para zonas “menos interessantes” para a especulação imobiliária.
Dá jeito, a quem tem poder, que os críticos dos erros se calem em nome de “maledicências” e “difamações” para que os moradores de Celas possam ser “convidados” a mudarem para sítios que não perturbem os interesses escusos e que resultam de falta de transparência política. Esta maldade, infelizmente, é transversal a muitos partidos políticos e movimentos que se dizem independentes.
Por isso é que as vozes criticas não se podem calar e devem manter a defesa da sua consciência e por isso se pede solidariedade de todos os conimbricenses.
Todos Juntos em Solidariedade, faz com que cada um de nós seja cada vez Mais Forte! Não esperem que a vida vos pregue partidas para entenderem isto!
JAG