Samaritana - Fado de Coimbra
Música: Álvaro Cabral
Letra: Álvaro Cabral
Dos amor’s do Redentor
Não reza a História Sagrada
Mas diz uma lenda encantada
Que o Bom Jesus sofreu d’amor.
Sofreu consigo e calou
Sua paixão divinal,
Assim como qualquer mortal
Que um dia d’amor palpitou.
Refrão:
Samaritana,
Plebeia de Sicar,
Alguém espreitando
Te viu Jesus beijar
De tarde quando
Foste encontrá-lo só,
Morto de sede
Junto à fonte de Jacob.
E tu, risonha, acolheste
O beijo que te encantou,
Serena, empalideceste
E Jesus Cristo corou.
Corou! por ver quanta luz
Irradiava da tua fronte,
Quando disseste: - Ó Meu Jesus,
Que bem eu fiz, Senhor, em vir à fonte.
Título original: SAMARITANA
Música: Álvaro Augusto Cabral da Cunha Godim de Maia Figueiredo (1865-1918)
Letra: Álvaro Augusto Cabral da Cunha Godim de Maia Figueiredo (1865-1918)
Incipit: Dos amores do Redentor
Origem: Lisboa
Género (lição conimbricense): Canção de Coimbra
Subcategoria: composições musicais com refrão
Edição musical: casa Valentim de Carvalho (várias edições)
Edição musical: casa Valentim de Carvalho (várias edições)
Data: ca. 1914
Arranjo para guitarra de Coimbra: Artur Paredes
Informação complementar:
Fado-canção oriundo de Lisboa e adaptado ao estilo de Coimbra por Edmundo Bettencourt (voz) e Artur Paredes (arranjo na guitarra de acompanhamento). Cantam-se as duas primeiras estrofes, o refrão, as duas quadras seguintes e novamente o refrão, sem repetir verso algum.
A música e a letra são ambas do ator português Álvaro Cabral (Vila Nova de Gaia, 22.06.1865; Porto, 22.10.1918) que, além de compositor e de ser um boémio muito espirituoso e bom conversador, foi um excelente ator e autor de revistas e de letras de fados. Tinha 53 anos e era primeiro ator e diretor de cena da companhia que trabalhava no Teatro Nacional de São João, do Porto, quando morreu. Um dos mais recuados registos fonográficos de “Samaritana, Fado-Canção”, foi realizado pelo cantor «Arthur Silva acompanhado por Sears Orquestra», USA, Oakland, APS 863, 1915, sendo plausível que Artur Paredes possuísse um exemplar desde fonograma, dado que na outra face constava a Canção do Ribeirinho, música e letra de Álvaro Cabral, que o mesmo Artur Paredes tocava e veio a gravar.
A letra integral deste fado-canção consta das edições musicais da casa Valentim de Carvalho, inicialmente na Rua da Assunção, 37-39, em Lisboa (telefone nº 4.282). A 1.ª edição foi impressa na Litografia Monteiro, Travessa das Pedras Negras, n.º 1, da mesma cidade. Foram feitas pelo menos três edições, as duas primeiras sem data e, a terceira, com desenho de capa datado de 1922, mas a primeira é bastante anterior, seguramente dos primeiros tempos da implantação da República.
As três edições que conhecemos são prova mais que segura da grande popularidade alcançada pelo fado-canção Samaritana muito antes de Edmundo Bettencourt ter ido para Coimbra. Existe também uma edição para bandolim.
Este fado-canção, embora não seja na sua origem uma melodia do repertório conimbricense, foi gravado e cantado na década de 1920 com grande aplauso por Edmundo Bettencourt e gravado em fevereiro de 1928, no Porto, pelo próprio, acompanhado na guitarra de Coimbra por Artur Paredes e Albano de Noronha e, no violão de cordas de aço por Mário Faria da Fonseca (discos Columbia 8121 e Columbia, GL 102, master P. 301). O disco não contém qualquer indicação quanto às autorias da música e da letra, o que indicia desconhecimento do cantor e dos instrumentistas, inclusive desconhecimento das sucessivas edições musicais existentes à época.
Na reedição deste disco (Columbia, GL 102, etiqueta verde) figura erradamente, por gralha ou ignorância, o nome de Álvaro Leal como autor do fado-canção, erro que se generalizou e se transformou num verdadeiro “erro sistemático” da discografia coimbrã.
A gravação de Edmundo de Bettencourt foi depois reeditada nos USA sob etiqueta verde (disco Columbia, 1070-X).
Registo disponível em vinil, LP Fados de Coimbra – Edmundo Bettencourt, Lisboa, Valentim de Carvalho, 1984). Disponível também em compact disc: CD Fados from Portugal. London: Heritage, HT CD 15, editado em 1992; CD Arquivos do Fado. Macau: Tradisom, Volume II, TRAD 005, cópia do anterior, editado em 1994; Um Século de Fado. Alfragide: Ediclube, CD Nº 1/Coimbra, editado em 1999; CD O Poeta Cantor. Lisboa: Valentim de Carvalho, 560 5231 0047 2 5, 1999; CD Vozes e sons de Coimbra (1926-1930). Vila Verde: TradiSom 5 605347 080 132, 2013, reeditado em 2014, faixa n.º 4, com booklet de António M. Nunes;
Edmundo Bettencourt só canta metade da letra (trata-se de um disco de 25 cm e 78 rpm) e nela introduz a interjeição “Oh” no 3.º verso da 4.ª quadra, alterando-o para «Quando disseste: oh meu Jesus», ao que se julga para melhorar a prosódia.
A Academia de Coimbra apropriou-se deste fado-canção e muitos têm sido os cantores que o gravaram, tendo-se transformado num dos mais emblemáticos do repertório conimbricense, dele existindo covers para todos os gostos.
Como se disse, na discografia existente (e em livros também) aparece com frequência o nome do compositor e escritor teatral Álvaro Leal (1893-1931), como autor da Samaritana, erro que, proveniente de um erro inicial, se transformou em erro sistemático. Afonso de Sousa que privou e gravou com Bettencourt também não sabia quem fosse o autor desta composição e supunha mesmo que pudesse ter origem espanhola. A letra também se encontra modificada em diversos discos e em livros.
A outra metade da letra, que não está gravada em disco, consta das diversas edições musicais e é a seguinte:
Fitando o azul celeste
Jesus seguiu a jornada,
Após o beijo que lhe deste
Naquela hora abençoada.
E a jovem Samaritana,
De lindo rosto moreno,
Como mulher sentiu-se ufana
Por ter beijado o Nazareno.
Refrão
Samaritana,
Plebeia de Sicar, etc. etc.
Mais tarde, na Galileia,
Seguida de fariseus,
Entravas pela Judeia
Perdida d’amor por Deus
.
Dando gritos lancinantes
Suplicavas morte na cruz,
No mesmo lenho em que horas antes,
Bebendo fel, morrera o teu Jesus.
Retirado de "Quem ama, de amar não cansa"http://www.youtube.com/watch?v=rEZUMOUif9w