O MONDEGO, OS POETAS, OS TÉCNICOS E OS POLÍTICOS
O nosso Rio, português de nascimento, o Mondego, espraia-se da Serra da Estrêla até à Foz, na Figueira, por montes e vales.
Banha, com toalha de água refrescante, doada a desportos náuticos e albufeira de regadio, uma Coimbra que conheceu um basófias irreverente, nos tempos de inversos tempestuosos.
O Mondego inspirou poetas. Por isso. teve direito a uma ou outra estrofe, de "Os Lusíadas" e de outras obras literárias portuguesas. Não andam longe os amores de Pedro e Inês.
Recordo, pela excelência do recorte, Luís Vaz de Camões:
“Fez primeiro em Coimbra exercitar-se
o valeroso ofício de Minerva
e de Helicona as Musas fez passar-se
a pisar do Mondego a fértil erva.”
O Mondego, o Rio, motivou os nossos homens de letras.
Mas, e também, os que, e por dever de ofício, como os estudiosos da hidrografia, da engenharia e de outras ciências, ligadas à riqueza da água, o tomaram para argumentar e lançar obras.
De outra banda, os técnicos dessa área, porque a água é vida e fonte de inspirações, acercaram-se desse Rio, retirando-lhe proveitos, como a rega de campos, para os fertilizar;
represando-o para fazer a sua transformação, de que a energia eléctrica é um caso; captando as suas águas para abastecer populações; e construindo pontes para servir margens.
Os políticos vêm, agora, passear-se nas suas águas, frente à Cidade doutora.
Encantaram-se e apontaram, a dedo, uma ou outra imagem degradante das suas margens.
Mas não souberam tirar partido - penso - da jornada.
Deveriam ter aproveitado para, e pelo menos, traçar o panorama de funcionamento das "Águas da Região do Centro Litoral de Portugal", nomeadamente esclarecendo o povo sobre a participação do município de Coimbra (só tem uns 11%) e os ganhos para o mesmo; desmontar a factura desse principal "alimento" para a vida do homem, quanto a impostos e mais impostos nela constante; e trazer a público o estado da rede de distribuição de água aos concelhos da Zona de Coimbra e projectos futuros.
E carrear, para o público, a razão das Águas de Portugal terem 60% do capital, a maioria, nessa empresa inter-municipal. E essa empresa do Estado pagou, a cada autarquia, o valor razoável de todo o património desse sector ?
Oportunidade soberana e desperdiçada nesse passeio no Mondego, nas águas quietas, do seu espelho de água, foi abordar e informar, para formar, o que está organizado/planificado, pela Protecção Civil Concelhia e Nacional, em caso da Barragem da Aguieira, sofrer um rombo...
Nada...zero. Ninguém sabe o que fazer.
O Rio é nosso e merece ser repensado.
Os poetas cantaram-no.
Os investigadores e os técnicos profetizaram-no, em obras.
Os políticos esqueceram-se de uma abordagem factual e actual.
É, por estas e por outras, que ando arredio da política.
Imagem retirada da net
António Barreiros