Os mistérios do brasão de Coimbra
O brasão de Coimbra é formado por uma taça de ouro colocada num campo vermelho. De dentro da taça surge uma donzela em meio corpo com as mãos em posição de oração. Veste um manto de prata e tem na cabeça uma coroa ducal; do lado direito tem um leão de ouro e do esquerdo um dragão alado de cor verde.
A origem deste brasão é muito, muito antiga e está envolto em lendas. Uma delas, a mais conhecida e mais bonita, foi dada a conhecer por Frei Bernardo de Brito (1569-1617), monge de Cister e doutorado em Teologia pela Universidade em 12 de Abril de 1606.
Diz-nos Frei Bernardo que o rei alano Ataces e o rei suevo Hermenerico travaram uma terrível batalha, que foi ganha pelo rei suevo. O combate foi de tal maneira sangrento que as águas do Mondego ficaram tintas de vermelho.
Na verdade, Ataces tinha arrasado por completo a cidade de Conimbriga e decidiu fundar uma outra cidade na margem direita do Mondego. E foi aí que a batalha se travou.
Hermenerico retirou-se para norte, porém Ataces foi em sua perseguição, obrigando o rei suevo a pedir a paz, oferecendo a Alanos a mão de sua filha Cindazunda , uma princesa muito bela que deixou Ataces completamente enamorado.
Realizaram-se bodas magníficas e, para comemorar o acontecimento, o rei alano concedeu a Coimbra o emblema que, permanece .no essencial
No entanto décadas antes de Frei Bernardo de Brito nos relatar esta lenda, Gil Vicente escreveu a “Comédia sobre a Divina Cidade de Coimbra” Nessa peça o famoso dramaturgo português dá outra explicação às armas de Coimbra.
Diz-nos Gil Vicente que a trama se desenrola num cenário mágico da Antiguidade e numa montanha onde existe um “selvagem” de nome “Monderigón” que mantém uma princesa aprisionada; persegue-o um caçador, Celipôndio e sua irmã que está guardada por um leão e um dragão. No final, Celipôndio consegue matar Monderigón e libertar a princesa.
É óbvio que a peça de Gil Vicente é uma alegoria ao mitema gnóstico da alma prisioneira que sai do brasão renascida de um graal dourado.
A peça de Gil Vicente estreou em Coimbra no ano de 1527 durante a estadia da corte na cidade.
Acontece que, se a lenda de Ataces e Hermenerico fosse verdadeira, o nosso dramaturgo não a desmentiria categoricamente.
Os séculos passaram e tudo indica que o brasão da nossa cidade vai continuar a ser misterioso, quase tanto quanto a cidade, capital do amor, o é.
Maria Leonor Correia
Notas
Net e Portugal Terra de Mistérios Paulo Alexandre Loução