Padre Aníbal Castelhano: choro a perda…
Acabo de receber a notícia da morte do padre. Aníbal Castelhano, um membro do clero da Diocese de Coimbra que conheci na minha juventude, na Paróquia de S. José.
Sabia-o doente, faz tempo. Liguei-lhe umas três ou cinco vezes. Queria perceber como se sentia. Nem uma palavra a afirmar-se incomodado pela maleita que o corria. Sempre aquela expressão de acreditar na vida e de preparar a morte…
Era um moço, talvez com os meus 19 anos, quando o conheci. Ele tinha chegado à Igreja de S. José. Vinha acolitar, poderia dizer assim, o primo, o padre. João Castelhano. Um e outro de Seixo de Mira, donde a terra deu alguns servos para a Igreja de Cristo.
Aníbal Castelhano era alto, forte e apresentava um porte de homem robusto.
Tinha uma linguagem acessível. Um diálogo fácil. As suas homilias em S. José ajudavam-nos a melhor conhecer e interpretar a mensagem salvadora de Deus.
Tratava o Filho, Jesus, de forma leve, procurando-o enquadrá-lo como um homem daquele tempo, buscando a história dessa época e a figura do Rei dos Judeus, para o situar como um libertador do seu Povo e, também, do espírito e da alma dos seus irmãos.
Introduziu na Igreja de S. José um novo estilo, o seu – simples, compreensível, entendível, despido de preconceitos, leve na mensagem e muito comprometido com os seus paroquianos – o que provocou a presença de mais gente na busca da quietude espiritual e pessoal.
Sabia receber, escutar, compreender, tolerar e aceitar os cristãos que o procuravam porque estava pronto para acudir na adversidade, no problema, na questão, na tristeza e, muitas vezes, na queda da vida.
Homem de entendimentos. Pessoa de sentimentos alargados e enobrecidos pela vivência de um caminho pleno de responsabilidades e de conseguir estar nos tempos das maiores dificuldades. Amante das amizades deu-me uma parte da que repartiu, gratuitamente, por muitos. Tonificante das amarguras dos que as sentiam. Refresco doce nos diálogos com que se apresentava. Padre de fé recortada pelo caminho que conseguiu fazer na Igreja a que se dedicou com elevação, ética, honra e muita dedicação. Padre de coragem pelo convívio que manteve com gente de “mau olhado”. Pároco de teologia fácil de sorver e de alimentar muitos que não tinham bagagem para descodificar a mensagem salvífica de Deus e do seu Filho.
Passou por muitos cargos, mas os que mais recordo: Director da Cáritas Diocesana de Coimbra; na Cúria Diocesana uma espécie de assessor do Vigário-Geral; e, ultimamente, pároco de Penacova e Friúmes.
Parte um amigo. Viagem para a eternidade uma figura próxima que me soube respeitar e estimar. Deixa-me mais uma parte da minha história de vida. Abandona-me para ir viver para outro lugar, o Padre que, após a morte de um outro que me marcou profundamente e foi meu Mestre, o Cónego Urbano Duarte, foi um pilar da minha sustentabilidade cristã porque colocava em causa a minha fé e o meu sentimento de perceber a Igreja, perante tantos factos de descrédito. Aníbal dava-me – e sempre – a sua palavra para que eu pudesse reflectir e seguir sem questionar, antes descobrir melhor a verdadeira mensagem da salvação.
Nesta hora da tua partida – tratei-o por tu, quase sempre – quero dizer-te que te estou grato pela tua passagem por mim, pelo teu testemunho, pela tua força de experimentar e de viver a fé e, ainda, pela eloquente maneira, sem vedetismo, como te apresentavas para, como Homem e como Padre, deixares a tua palavra de apoio, de amizade, de grande humanismo e de saberes perdoar, também como pessoa e como membro da Igreja Católica.
A Diocese de Coimbra perde um Homem bom e um Padre que estava pronto para acudir a aflições da vida e da alma. Aníbal tem lugar na história da nossa Igreja Diocesana de Cristo.
Quero afirmar-te, aqui nestas páginas e para que todos o saibam: NÃO CHORO PELA TUA MORTE, MAS CHORO A TUA PERDA…
Sinto-a cá dentro. O meu coração emociona-se. A minha alma reveste-se de saudosismo por ires para um lugar mais calmo, silencioso e seguro. Lá, faz-me um favor: pede por mim e por todos.
Antonio Barreiros