Ruas com História - XXI Rua António José de Almeida

 Carlos-Ferrao9.png

Com a extinção das ordens religiosas a quinta dos crúzios, que se estendia pelo Vale da Ribela até ao Parque de Santa Cruz acabaria comprada pela Câmara em 1885. Nos anos seguintes , procedeu-se à abertura da Avenida Sá da Bandeira  que passou a ligar a baixa aos novos bairros e zonas residenciais de Montes Claros e Cumeada. No sítio de Montes Claros com referências desde o séc. XIV, haveria um obscuro caminho fazendeiro a que se passou a chamar rua de Montes Claros.

A pedido de vários moradores, a Câmara deliberou em 1931, dar a denominação de Rua António José de Almeida à rua de Montes Claros, ligando a Rua Ocidental de Montarroio (hoje rua de Saragoça) com a Cruz de Celas.

A escolha de António José de Almeida aconteceu pelos seus feitos políticos e eleição de Presidente da República em 6 de Agosto de 1919, lugar que ocupou até 5 de Outubro de 1923.

As construções de casas da nova burguesia conimbricense cresciam ao longo da rua. Incrustado no lado sul, existiu mais de meio século o Bairro Operário construído em 1895. Edificado com dinheiro que a diocese se propunha gastar para comemorar as bodas de prata do bispo-conde D. Manuel Correia de Bastos Pina, mas que, por desejo do próprio homenageado, foi construído um bairro para famílias necessitadas.

Junto ao Bairro Operário foi inaugurado em 1897, o Matadouro Municipal, demolido e mais tarde, ocupado o local com a Igreja da Paroquia de Nossa Senhora de Lurdes, inaugurada a 24 de outubro de 2003.

Do lado norte era a T.S.F. (Telegrafia Sem Fios) deixando ver as antenas de toda a cidade.

As horas de lazer, eram ocupadas em clubes - hoje são muito raros os clubes populares em Coimbra que ainda mantêm as portas abertas. Numa das travessas da Rua António José de Almeida, Travessa Moura e Sá o Grupo Recreativo de Montes Claros fundado a 15 de Março de 1938 é o exemplo do que foi e é um Clube de bairro. Mantém-se vivo e saudável, com atividades, muitos amigos e fraternidade.

Quase a chegar ao Largo de Celas ainda existe, e de boa saúde o “Tiro e Sport”, um clube

fundado em 1905, na rua da Sofia, com o fim de promover e desenvolver o exercício do desporto em várias modalidades. Tiro, Ténis, Atletismo, Patinagem e equitação são alguns exemplos.

Um clube social, elitista e largamente frequentado por industriais, comerciantes e por professores da Universidade. Era aqui que os alunos descobriam os hábitos e vícios de alguns professores, Sabia-se quem jogava "Bridge", quem bebia Gin ou Whisky e os que se ficavam por um cálice de Cointreau- Debaixo de olho dos alunos, registavam-se todos os   episódios mais ou menos divertidos e pitorescos em que se envolviam os Professores. E há muitos para relatar — Era noite de festa com um brilhante baile. Um Prof., entrado em anos, mas elegante e estimado das damas, dançava com uma jovem em grande animação, quando foi violentamente “atropelado” por um par mais entusiasmado. A colisão fez-lhe saltar o monóculo que se estilhaçou no chão. No meio das desculpas alguém exclamou: — Mas que imprudência a sua. Senhor Doutor. meter-se assim nestes folguedos! E logo o Professor com um gesto teatral extraiu do bolso do colete um monóculo sobresselente que encaixou na órbita declamando:

— Imprudente. sim! Mas não imprevidente!

De facto, era o cúmulo da previdência andar com um segundo monóculo — teria comentado alguém. E, rápido, o Professor apontando o bolso:

— E, em caso de necessidade, ainda aqui há um terceiro! 

Carlos Ferrão