Ruas com História

Rua do Brasil

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O Mondego ocupava quase todo o espaço onde atualmente é o Parque da Cidade. O troço de estrada que sai da Portagem para o Calhabé não existia. O rio vinha em época muito anterior até próximo das muralhas da cidade; depois, quando se construiu a ladeira (Couraça da Estrela), que vai em direção à rua da Alegria, existia ali uma ínsua e uma escada de pedra, que era utilizada pelas mulheres para acarretarem cântaros de água para consumo da parte alta da cidade. O transito que a partir da Baixa queria ir para a Portela ou sair da cidade para as Beiras, fazia-se pela rua da Alegria passava na falda do Jardim Botânico (antiga Cerca dos Bentos) até ao fundo da ladeira que se lhe chama do "Batista” e passando pela Arregaça, Calhabé, Fonte da Cheira, Nogueiras, seguia pelo Alto de S. João para a Portela.

Depois de 1850, com as obras de grande transformação de Coimbra, demoliu-se parte da ponte, é feito o aterro para o Parque da Cidade, conclui-se os paredões e o trânsito passou a circular sem ter que subir à rua da Alegria. Tinha-se assim uma verdadeira Estrada da Beira em Coimbra.

Emídio Navarro, muda-se de Viseu para Coimbra onde por vontade da família pretendia estudar Teologia. Coimbra como terra de paixões que é, entra de amores com uma jovem, corta relações familiares e matricula-se em Direito.

Na ausência do apoio financeiro da família como forma de subsistência trabalha como jornalista, chegando a fundar diversos jornais, como A Academia, Transmontano, Correio da Noite e Novidades e colaborou ainda na revista Brasil-Portugal.

Já formado em Direito, com o país a viver em Monarquia Constitucional, Emídio Navarro ocupou cargos ministeriais nas áreas do Ensino Técnico e Agrícola, e nas Obras Públicas. Foi enquanto responsável por esta pasta que fez uns “jeitinhos” à cidade de Coimbra no alargamento do Cais das Ameias e do seu ajardinamento, no "Passeio Público" frente à Estação Nova e ao longo do rio, com áreas ajardinadas e arborizadas.

Para que o seu empenhamento não fosse esquecido, por proposta dos vereadores António A. Gonçalves e Manuel A. R. Silva, foi deliberado em 31 de março de 1888, dar o nome de “Avenida Emídio Navarro” à projetada avenida entre o Porto dos Bentos e a Estação Nova.

Lá ficou a Estrada da Beira mais curta!

Em 1960, o V centenário da morte do Infante D. Henrique, constituiu comemorações de grande aparato. Houve delegações regionais por todo o país com presenças de diretores de Institutos, Associações, Universidades, Câmaras Municipais e outros.

Entre os visitantes estrangeiros em homenagem à memória do Infante, veio a Coimbra o Presidente da República Brasileira, Juscelino Kubitschek de Oliveira, a 9 de Agosto de 1960, sendo nessa ocasião doutorado "honoris causa" pela Faculdade de Direito.

A cidade entrou em euforia para ver a bandeira auri-verde do Brasil entrelaçar na de Portugal a exprimir o sentimento de amizade entre os dois povos e a esse propósito, o Presidente da Câmara, Dr. Moura Relvas, propõe que se ignore uma atribuição em 1955 do nome Brasil a uma rua em projeto, e que a chamada Estrada da Beira passe a designar-se Rua do Brasil na parte que vai da Avenida Emílio Navarro (Porto dos Bentos) até à extremidade nascente da Rua de Moçambique (Nogueiras), ideia prontamente acolhida por todo o executivo e passando a fazer-se preparativos para a cerimónia de inauguração da lápide com o nome Brasil que acabava de ser dado à Estrada da Beira. Marcada uma nova manifestação de afeto para o dia 21 de Outubro de 1960, um convite especial ao Embaixador do Brasil em Portugal, Dr. Negrão Lima e a mais uma meia dúzia de oradores. Tudo a postos! As placas nas paredes dos topos da rua, cobertas com as bandeiras dos dois países, discursos bem preparados, lidos e relidos e eis que um grande temporal fustiga a cidade, forçando a que a cerimónia de inauguração da Rua do Brasil se realizasse no salão nobre dos Paços do Concelho e o descerramento da lápide não pudesse acontecer.

Um acontecimento, inovador para a época. Hoje, mesmo com internet, inaugurar à distância não é seguramente vulgar!

Carlos Ferrão